Poluição: Vazamento já é o maior desastre ambiental dos EUA; BP tenta nova operação para conter danos
Um executivo da BP disse ontem que não há "nenhuma certeza" de que a nova tentativa da empresa de conter o vazamento de petróleo no Golfo do México vá funcionar, após o fracasso da tentativa de interromper o derramamento com uma injeção de líquidos pesados no poço, no sábado à noite.
Enquanto isso, um assessor próximo do presidente Barack Obama disse que o governo se prepara para encarar meses de vazamento.
A empresa planeja agora tentar conter o fluxo com um novo tipo de tubo que desviaria o petróleo para a superfície. A operação envolveria a remoção de um tubo de perfuração danificado, que fica em de uma válvula de segurança que não funcionou, e selar essa válvula. Os engenheiros da BP dizem que a nova tentativa nunca foi realizada a 1.500 metros de profundidade, e Bob Dudley, diretor-gerente da BP, disse em entrevista ao programa de TV Fox News Sunday que a iniciativa não tem sucesso garantido.
"A questão agora é quanto do petróleo" a empresa conseguirá conter, disse Dudley. Ele afirmou ainda não crer que a nova tentativa possa piorar o vazamento.
Carol Browner, assistente especial de Obama para energia e mudança climática, disse ao programa Meet the Press, da TV NBC, que o governo Obama estuda a possibilidade de que nenhuma das medidas propostas pela BP, exceto os poços de alívio de pressão que a empresa deve demorar meses para furar, consiga interromper ou inibir o jorro de petróleo no mar.
Num cenário assim, "o petróleo pode seguir vazando até agosto, quando os poços de alívio (...) forem concluídos", disse Browner no programa Face the Nation, da CBS.
Browner acrescentou que especialistas do governo acreditam que a tentativa da BP de conter o vazamento pode aumentar temporariamente em 20% o volume de petróleo que o poço está expelindo.
O fracasso da tentativa de injetar detritos e líquidos no poço se seguiu às tentativas malsucedidas de ativar a válvula de segurança e de instalar um domo de contenção sobre o vazamento, que se calcula que esteja liberando entre 12 mil e 19 mil barris de petróleo por dia. O vazamento começou há mais de um mês, quando a plataforma Deepwater Horizon, da Transocean, explodiu e afundou. O acidente já é o pior derramamento de petróleo da história dos EUA, superando o célebre desastre do petroleiro Exxon Valdez, no Alasca, em 1989.
"Estamos decepcionados porque o 'top kill' não funcionou", disse Dudley, referindo-se ao nome em inglês da ação de fechar o poço com injeção de material pesado.
Dudley disse que ainda é "muito cedo" para concluir que a BP tenha tentado economizar na operação da plataforma e afirmou que investigações das autoridades federais e das empresas envolvidas é que vão determinar as causas do acidente. Ele acrescentou que o acidente "terá implicações não só para a indústria petrolífera dos EUA, mas do mundo".
O fracasso da "top kill" foi um duro golpe para a BP, que acreditava nas chances de sucesso, e elevará a pressão do governo Obama, de políticos americanos e das várias investigações em curso no Congresso sobre a petroleira britânica.
A BP começou a injeção na tarde de quarta-feira, inserindo um líquido pesado na válvula danificada, conhecida como de prevenção de estouros. A lama foi impulsionada por uma bomba instalada num navio. Mas ficou claro desde o início que a lama estava vazando em vez de descer o poço.
A BP tentou contornar o problema com uma série de injeções de detritos, em que materiais como fragmentos de pneus, pedaços de corda e bolas de golfe foram injetados para tapar os buracos na válvula. Mas a operação, segundo a empresa, "não conseguiu vencer o fluxo vindo do poço".
Browner disse que o governo mandou no sábado a BP parar o procedimento, após ficar "muito preocupado" com a possibilidade de a operação pressionar demais o poço, que está fora de controle.
O deputado Edward Markey, membro de uma comissão parlamentar que investiga o desastre, disse no Face the Nation que não tem "absolutamente nenhuma confiança na BP". Ele é do Partido Democrata, o mesmo de Obama.
Moradores da costa do Estado americano de Louisiana dizem temer que o vazamento de petróleo possa causar ainda mais danos econômicos e ambientais se não for sanado logo.
O diretor operacional da BP, Doug Suttles, disse que a nova tentativa, usando o sifão, vai demorar entre quatro e sete dias. O mecanismo, conhecido pela sigla em inglês LMRP, é uma nova versão de um tipo de aparelho conhecido como "cartola".
"Com base no que sabemos agora, acreditamos que o aparelho de contenção é a maneira mais eficiente de minimizar o impacto do vazamento de petróleo no ecossistema do golfo e para a população da região", disse num comunicado o diretor-presidente da BP, Tony Hayward. "Vamos continuar refinando os esforços, para criar o processo de contenção mais estável e eficiente possível."
O plano mais recente é, sob certos aspectos, mais complexo que a primeira tentativa fracassada da BP de usar um domo, dizem especialistas.
Se o novo aparelho de contenção fracassar, Suttles disse no sábado que o próximo passou seria tentar instalar outra válvula de prevenção de estouros em cima da danificada no leito do mar.
Fonte: Valor Econômico/ Stephen Power e Mark Long, The Wall Street Journal
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