A greve geral na Petrobras preocupa analistas, que temem a paralisação de uma parte importante das operações da companhia como não aconteceu nas greves recentes. O volume de petróleo e gás que deixou de produzido é controverso. Ontem os petroleiros informaram que a Petrobras deixou de extrair cerca de 500 mil barris diários de óleo por causa da greve, o equivalente a 25% da produção.
Já a estatal divulgou após as 21h30 que deixou de produzir 273 mil barris de petróleo, queda de 8,5% em relação ao dia anterior. O volume que deixou de ser produzido, segundo a nota, equivale a 13% da produção no país. Também deixaram de ser produzidos 7,3 milhões de metros cúbicos de gás.
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O analista de um grande banco calcula que a paralisação pode gerar perdas de receita da ordem de R$ 100 milhões a cada dia de greve se confirmados volumes divulgados pelo sindicato.
"Pela primeira vez estamos preocupados porque são muitas plataformas aderindo à greve. Se a paralisação atingir 25% da produção durante 10 dias, a queda da produção será de 8% em novembro", disse o analista, que pediu para não ter seu nome identificado.
Já o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que a greve tem potencial de impactar as receitas em US$ 20 milhões a US$ 25 milhões por dia - R$ 75 milhões a R$ 94 milhões. João Augusto Castro Neves, diretor da consultoria Eurasia Group, acompanha a greve a partir dos Estados Unidos e observa que ela ocorre em um momento em que a empresa coleciona dificuldades de caixa.
"O tempo de duração, o efeito na produção, e se a Petrobras vai ceder são as duas variáveis cruciais para ver o real custo da greve. E no contexto atual, de dificuldades financeiras, essas variáveis podem desencadear outras medidas, como um reajuste no preço dos combustíveis e a venda de mais ativos", afirma o analista.
Outra fonte ouvida pelo Valor pondera que ainda não é possível dimensionar os impactos da greve até o momento. "É difícil saber qual a materialidade [sobre o resultado da Petrobras], pois é preciso vários dias [de paralisação] para ter efeito. Mas é uma perda que não se recupera. Se a greve durar um número de dias razoável, uma semana talvez, será pouco material frente ao todo", afirmou.
Segundo José Maria Rangel, coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) os trabalhadores têm optado pelo fechamento de alguns poços, reduzindo a vazão dos mais complexos. De acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, 45 unidades marítimas que operam na Bacia de Campos, entre plataformas, sondas e unidades de manutenção e segurança aderiram. Do total, 29 estariam completamente paralisadas, nove sendo operadas por equipes de contingência e sete com restrições. A greve começou domingo em resposta à decisão de representantes da Petrobras de não comparecerem à audiência com o Ministério Público do Trabalho e os sindicatos na semana passada. Entre os pleitos dos petroleiros está a suspensão do plano de desinvestimentos.
Sindicatos vinculados à FUP já haviam iniciaram a greve na quinta-feira. Além da suspensão da venda de ativos, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) pede reajuste salarial de 18%, incluindo reposição da inflação. A Petrobras propôs 8,1%. O representante dos funcionários no conselho, Deyvid Bacelar, foi detido na Bahia, por desacato e liberado ontem.
Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner, André Ramalho e Rodrigo Polito | Do Rio