Acordos de colaboração premiada firmados por executivos da NM Engenharia, uma empreiteira com dezenas de contratos com a Transpetro que alcançam R$ 1,5 bilhão, foram o ponto de partida para a 47ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta terça-feira, e que prendeu temporariamente José Antonio de Jesus, um ex-gerente da subsidiária da Petrobras que os procuradores dizem ser ligado ao PT.
O Ministério Público Federal (MPF) foi procurado pela NM em meados de 2016, após a empresa ser citada na delação premiada de Sergio Machado, do PMDB, ex-presidente da Transpetro. Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, executivos forneceram provas e tiveram um acordo de colaboração fechado - a empresa também firmou um termo de leniência.
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Os procuradores notam que José Antonio de Jesus recebeu R$ 7 milhões em propinas para favorecer a NM em contratos com a Transpetro. Para dissimular o acordo, o dinheiro foi pago a contas bancárias de terceiros, inclusive uma empresa que, segundo a Lava-Jato, pertence a um filho do ex-gerente. José Antonio de Jesus foi levado a depor à PF nesta terça-feira.
"Como na Petrobras, havia na Transpetro um cartel de empresas organizado para ganhar licitações e manter contratos", afirmou a procuradora Jerusa Burmann Viecili, integrante da força-tarefa da Lava-Jato, em entrevista coletiva em Curitiba. " A expansão da investigação se irradia para Transpetro e Petrobras Distribuidora. Quem cometeu crimes nessas empresas não fique tranquilo: a Lava-Jato avança e investigações continuarão firmes até o fim", disse o procurador Athayde Ribeiro Costa.
Em nota distribuída pelo MPF à imprensa, ele exortou potenciais colaboradores a se apresentarem às autoridades: "Como ocorreu no caso da Petrobras, este é o momento mais favorável para quem quiser colaborar com a Justiça se apresentar”.
O ex-gerente José Antonio de Jesus recebeu, segundo o MPF, propinas referentes a 0,5% de contratos celebrados entre a NM e a Transpetro, mas o pedido inicial foi de 1%. "Foi um esquema bastante rudimentar de lavagem de dinheiro", disse a procuradora Jerusa Viecilli: a propina saía da conta bancária da NM para a conta bancária de uma empresa do filho do ex-gerente, sem qualquer contrato ou justificativa para o repasse do dinheiro. Por conta disso, o MPF também investiga contratos entre a pessoa jurídica do filho do ex-gerente com a Transpetro.
Apesar de Jerusa Viecilli dizer que José Antonio de Jesus pediu propina "se valendo de sua influencia no PT", ele não era filiado ao partido, segundo a Lava-Jato. Ele era sindicalista e teria mencionado a executivos da MN sua ligação com o partido. Não há indícios de que o dinheiro pago em propinas tenha sido usado em campanhas eleitorais. Os procuradores também não quiseram dizer se integrantes do partido ou políticos com mandato receberam parte do dinheiro.
Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva na nova fase da Lava-Jato. José Antonio de Jesus será levado a Curitiba. A prisão dele é provisória - vale por cinco dias, prorrogáveis por igual período.
A Lava-Jato segue investigando outros pagamentos de propinas feitas pela NM.
Fonte: Valor