O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está preocupado com o aumento das importações de aço no país, principalmente de chapas grossas, produto usado principalmente em navios e plataformas de petróleo, informou fonte próxima ao banco. De janeiro a junho, desembarcaram no país 220 mil toneladas do produto, um volume 34% superior ao de igual período do ano passado, enquanto a Usiminas - única fabricante nacional, com duas linhas de produção (Minas e São Paulo) - pôs no mercado doméstico 410 mil toneladas, o equivalente a 68 mil toneladas mensais, ou menos de um terço da sua capacidade nominal de produção de 1,9 milhão de toneladas.
Queixas de setores industriais demandantes de chapas grossas têm chegado ao banco questionando o elevado preço da chapa grossa no mercado interno, bem mais caro que o vendido no exterior e que tem sido o principal estimulo às compras externas.
Paulo Sebastião Ferreira Marques, da Usiminas Mecânica, disse ao Valor, durante seminário de siderurgia na Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), que a tonelada de chapa grossa da Usiminas equivale hoje a US$ 1.200 (R$ 2 mil), ante US$ 860 a US$ 900 do preço na Europa, Japão e Estados Unidos, excluída a China. O diferencial é de 33% a mais para o produto nacional vendido no mercado interno. Marques atribui esta diferença "ao custo Brasil".
Ele destaca a paridade cambial como a maior responsável por essa diferença. "A moeda valorizada incentiva a importação", afirmou. Para o executivo, a importação de aço não resolve o problema da indústria brasileira. "O aço importado é de má qualidade. A China está fechando agora 200 unidades e o excedente que sobrar vai colocar no mercado e disputar preço. Quem comprar vai ter problemas", argumentou Marques.
A Usiminas, segundo informou, está investindo na expansão da produção de chapa grossa em mais 500 mil toneladas no seu site de Ipatinga (MG) e vai instalar um laminador com resfriamento acelerado para atender encomendas da Petrobras de 440 mil toneladas desse material para fabricação de tubos para perfuração do petróleo do pré-sal. A nova linha deve começar a operar em 2011.
A preocupação da Usiminas, segundo Marques, é com a qualidade do produto e não teme a concorrência na chapa grossa. O grupo Gerdau já anunciou a instalação de uma linha de produção de 900 mil toneladas anuais na Açominas, sua fábrica integrada em Ouro Branco (MG). Também a ArcelorMittal está interessada em investir nesse nicho.
O problema é como tornar a chapa grossa nacional mais competitiva para evitar a importação, ressaltam fontes do BNDES, que estudam o assunto. O banco não entende porque a siderurgia brasileira de aços planos tem os custos variáveis mais baixos do mundo e os custos fixos extremamente elevados. "É um paradoxo", comentam técnicos do banco. Um especialista do setor ressalta, porém, que as margens da indústria nacional de aço são altas, acima de 20%, enquanto as das siderúrgicas globais não ultrapassam este percentual. "Em meio a esses extremos, é preciso saber o que se pode fazer para tornar o país mais competitivo no aço", avaliam as fontes.
Carlos Loureiro, presidente do Inda, instituto dos distribuidores de aço, diz que a importação de chapa grossa é "danosa", pois a venda mensal da Usiminas este ano representa um terço da capacidade nominal de produção de chapa grossa da siderúrgica, o que sinaliza uma operação com elevado grau de ociosidade. "A importação machuca mais na medida em que a usina está com ociosidade muito grande". Por isso, vê o caso da importação de chapa grossa como "emblemático" e que merece solução.
Fonte: Valor Econômico//Vera Saavedra Durão, do Rio
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