Após dois meses de produção industrial fraca, o comportamento "gangorra" deve voltar a predominar nos meses finais de 2013, o que tende a prejudicar o horizonte de previsão de longo prazo de diferentes setores.
Enquanto em setembro os indicadores de atividade apontam para uma retomada da produção, com expectativa de alta de 1,3%, na média, segundo 20 instituições ouvidas pelo Valor Data, as primeiras evidências indicam que o quarto trimestre teve início morno, sem sinais de forte recuperação da produção industrial. Os primeiros relatos sobre outubro, que costuma ser um período de atividade mais intensa para a indústria por conta das encomendas para o fim de ano, mostram que a maioria dos industriais têm previsões ainda tímidas para os últimos meses.
Entre os ramos mais otimistas estão aqueles ligados ao consumo. Empresários do setor de bens duráveis esperam se beneficiar da reação das vendas do varejo no terceiro trimestre e ter bom desempenho nos últimos meses de 2013, com percepção de aumento da demanda em segmentos como material de construção, linha branca e equipamentos eletrônicos. No ramo automotivo, ainda não são esperadas grandes reações porque há estoques para serem comercializados. Já os setores mais dependentes dos investimentos em infraestrutura patinam.
A expedição de papelão ondulado, que é um bom termômetro das encomendas da indústria de bens de consumo, cresceu 1,9% em setembro sobre igual mês de 2012, segundo a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO). Ante agosto, as vendas de papel ondulado aumentaram 0,53% com o ajuste sazonal da ABPO.
O Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) também reportou bons resultados em setembro. Apesar da queda de 3,4% das vendas de aços planos no mercado doméstico ante agosto, para 409,6 mil toneladas, o presidente do Inda, Carlos Loureiro, destaca que setembro teve dois dias úteis a menos do que o mês anterior e, por isso, a média diária de vendas subiu para 19,25 mil toneladas, um novo recorde histórico nessa medida, mesmo com um reajuste médio de cerca de 6% dos preços da rede de distribuição no mês anterior. De acordo com ele, as vendas em outubro se mantêm "firmes".
Nos últimos três meses do ano, há um enfraquecimento sazonal do consumo interno de aços planos, mas, devido ao salto de 10,9% das vendas entre o segundo e o terceiro trimestres, Loureiro avalia que é possível chegar a dezembro com alta de 5% em relação a 2012. Atualmente, a projeção do instituto para 2013 está em 2,5%.
Já a ABCR, entidade que reúne as concessionárias de rodovias, divulgou alta de 4,4% no fluxo de veículos pesados em setembro na comparação com igual mês do ano passado. Esse dado, ao lado de outros indicadores positivos, levou o Banco Fator a projetar alta de 1,3% da produção industrial entre agosto e setembro. O Fator ainda destaca o salto de 15,7% da produção de veículos em setembro sobre o mesmo mês de 2012, de acordo com números da Anfavea, associação que reúne as montadoras. As vendas, no entanto, não reagiram e os estoques do setor subiram em setembro. Em outubro, de acordo com números preliminares, as vendas por dia útil, que ficaram na faixa de 14 mil a 15 mil carros nos últimos seis meses, devem ter recuado para cerca de 13 mil unidades, o que pode levar a uma queda de 6% a 8% dos emplacamentos em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com especialistas.
Para a indústria química, que fornece insumos para diversas cadeias industriais, setembro foi um mês "morno". Segundo Fátima Ferreira, diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), porém, a demanda se mantém "bastante aquecida", já que o consumo interno de produtos químicos, entre importados e nacionais, avançou 1,9% sobre igual mês de 2012. O apagão ocorrido em agosto em toda a região Nordeste, porém, afetou negativamente as fábricas naquele mês e também em setembro, quando a produção recuou 2,4% na mesma comparação, diz.
Fátima ainda cita uma parada programada para manutenção em uma unidade como outro fator que reduziu a produção. Ela mantém a expectativa de que o último trimestre de 2013 será mais positivo do que igual período do ano passado, devido à desoneração da cobrança de PIS e Cofins sobre insumos de primeira e segunda geração petroquímica, mas pondera que o câmbio mais depreciado ainda não ajudou o setor.
Esse também é o caso da indústria de equipamentos elétricos e eletrônicos, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee, que reúne as empresas do setor. Como a taxa de câmbio voltou a se valorizar, a parcela dos associados que previa elevar exportações vinha aumentando desde maio e alcançou 32% em agosto, mas diminuiu para 23% em setembro, de acordo com a sondagem realizada mensalmente pela associação.
Para Barbato, o terceiro trimestre frustrou e aumentou a parcela dos associados que considera o ritmo atual de negócios inferior às expectativas, de 48% em julho para 57% em setembro. Naquele mês, por outro lado, 51% dos associados afirmaram que as vendas cresceram em relação a igual período do ano anterior. Embora ainda não tenha dados, Barbato tem perspectivas melhores para outubro, principalmente para bens de consumo, como aparelhos celulares e tablets, diante das encomendas do varejo para o Natal, que deve ser mais positivo que o de 2012.
Já os segmentos ligados à infraestrutura, como equipamentos para o setor elétrico, continuam estagnados, por causa da redução da capacidade de investimento das geradoras, após a redução das tarifas. Além disso, há um 'estado de espera' das distribuidoras, que aguardam para ter as concessões renovadas.
Na indústria de material de construção, setembro foi positivo, com alta de 9,3% das vendas sobre igual período de 2012. Para o presidente da Abramat, Walter Cover, essa variação foi uma boa surpresa, ainda que tenha ocorrido sobre uma base de comparação baixa. O desempenho no mês afastou a perspectiva de revisão para baixo das projeções para o ano, de crescimento entre 3% e 4%. Mesmo assim, outubro deve ter sido um mês fraco, com vendas estáveis ou até negativas em relação a igual período de 2012, diz Cover, que enxerga possibilidade de recuperação em novembro e dezembro. "O efeito gangorra não mudará até o fim do ano", afirma. (Colaboraram Eduardo Laguna e Stella Fontes)
Fonte: Valor Econômico/Arícia Martins e Tainara Machado | De São Paulo
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