A indústria nacional de diferentes áreas que fornece à Petrobras quer garantir a manutenção dos atuais índices de nacionalização no setor e garante que, com indicação prévia da estatal e de outros produtores de petróleo, é capaz de atender a uma demanda bastante superior à atual.
Augusto Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav), diz que os estaleiros nacionais se consideram capazes de atender à demanda da Petrobras dentro do que a estatal definiu no seu plano de negócios 2010-2014, que prevê investimentos de US$ 224 bilhões. "Desde 2000 a indústria nacional sempre respondeu quando foi demandada", diz Mendonça. Ele não quis opinar sobre a possibilidade de a Petrobras vir a contratar percentuais de conteúdo nacional menores para desenvolver o pré-sal. "É um tema que precisamos analisar melhor", diz ele.
Mendonça informa que se, em tese, a Petrobras contratasse menos no Brasil tenderia a comprar mais no exterior e assim poderia aumentar os afretamentos (alugueis) de plataformas e navios construídos fora do país. Nesse cenário, a empresa não precisaria investir tanto do próprio caixa para fazer frente ao seu plano de negócios uma vez que alugaria mais equipamentos feitos com recursos de parceiros.
Segundo Mendonça, os estaleiros brasileiros trabalham com capacidade ociosa. Dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) indicam que a capacidade de processamento de aço dos estaleiros nacionais é de 562 mil toneladas por ano. Novos projetos poderiam aumentar essa capacidade em 35% nos próximos anos, mas nem todos os estaleiros anunciados devem sair do papel, o que coloca em dúvida qual pode ser o real percentual de aumento da capacidade da indústria de construção naval e offshore brasileira para atender o pré-sal.
No dia 16, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) apresentará um estudo no Rio mostrando que o percentual de conteúdo nacional nas compras da Petrobras, considerando apenas os produtos do seu grupo, está entre 22% e 30%, portanto, abaixo das exigências.
Segundo o vice-presidente da Abimaq, José Velloso Dias Cardoso, isso ocorre porque falta competitividade ao produto nacional. "Nos preocupa a perspectiva do pré-sal, pois hoje já há muita coisa já sendo produzida no país e não está sendo fornecida à Petrobras."
A entidade estima que, considerando as refinarias, o conteúdo nacional na compra de máquinas e equipamentos pela Petrobras está hoje em 30%. Na indústria naval, em 10% a 15%, e nas plataformas, em 22% a 30%.
Em números globais, a estatal, informa que aumentou o conteúdo nacional mínimo na compra de bens e serviços no Brasil de 57%, em 2003, para 77,34% este ano. A empresa diz que as compras no mercado nacional passaram de US$ 5,2 bilhões em 2003 para US$ 25,9 bilhões no ano passado.
Para a Abimaq, porém, há um peso grande dos serviços nesse percentual, e por isso a entidade defende que haja uma exigência de nacionalização específica para máquinas e equipamentos. "A indústria tem capacidade para atender a demanda atual e tempo para se preparar para a exploração do pré-sal", diz Cardoso. Para a exploração do pré-sal, a Abimaq defende um mínimo de 65% de componentes nacionais.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e Samantha Maia, do Rio e de São Paulo
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