De Brasília - O Brasil transformou-se em país de alto custo em salário, tributos e infraestrutura e só tem chance de expandir vendas industriais à China aumentando a sofisticação em setores que exploram matérias-primas onde o país tem vantagens comparativas. É o que pensa o diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, um dos principais organizadores da missão comercial que acompanhará a presidente Dilma Rousseff, em viagem à China, na semana que vem.
"Em curto prazo, o comércio com a China será ditado pelas commodities, não há como mudar", comenta Fernandes, rendendo-se à evidência de que produtos como minério de ferro, soja e petróleo ocupam quase 90% das exportações brasileiras aos chineses. "A estratégia para a China passa pela competitividade do Brasil", diz o representante da indústria, ao apontar os custos representados por impostos, insumos como energia e mão de obra no Brasil. "Se não enfrentarmos esses problemas internos, ficaremos sempre em uma agenda defensiva."
José Augusto Fernandes vê a possibilidade de fechamento de negócios pelos quase 300 empresários que acompanharão Dilma à China, aproveitando nichos de mercado naquele país. Mas alerta para a perda acelerada de competitividade dos produtores brasileiros, que deve se agravar com "bombas" já previstas para 2012, como o aumento bem acima da inflação para o salário mínimo.
O custo da energia no Brasil é, hoje, muito superior ao de 28 países industrializados, principalmente por causa dos tributos, que são 300% superiores aos cobrados na França ou Canadá, e 200% aos dos Estados Unidos ou Coreia do Sul.
A inflação no país agrava a perda de competitividade, que exigirá algum tipo de reforma tributária. "Não é só nossa capacidade de exportar na China que está em jogo, é a de nos defendermos aqui", diz o executivo da CNI.
As decisões até agora anunciadas como provável pacote de apoio à indústria, embora importantes, não alteram substancialmente o quadro institucional da tributação no país, avalia José Augusto Fernandes. O governo fala em reduzir gradualmente a tributação sobre folha de salários, mas deve transferir os encargos para o faturamento, reduzirá gradualmente o problema de acúmulo de créditos aos exportadores, mas não parece ter chances de mudar a estrutura dos impostos estaduais, que geram parte desses créditos com a cobrança indevida de impostos. E haverá alguma contribuição para empresa menores, com mudanças no chamado Simples, incentivando vendas ao exterior.
Os encontros de empresários durante a visita de Dilma deverão enfatizar a procura de nichos no mercado chinês e as oportunidades para atração de investimentos e associações de chineses no Brasil, com grandes obras de infraestrutura, apoio governamental à indústria de software e a setores como biocombustíveis, além do potencial de crescimento do consumo interno brasileiro. A comparação das condições para negócios no Brasil e na China, porém, é francamente favorável ao país asiático, dotado de uma infraestrutura moderna nos principais centros urbanos e a melhor logística voltada à exportação entre os países emergentes.
(Fonte: Valor Econômico/SL)
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