A persistente tendência de queda das cotações internacionais da soja, derivada do forte aumento da oferta global da matéria-prima nesta safra 2014/15, deverá causar um tombo sem precedentes na receita das exportações brasileiras do grão e seus principais derivados no ano que vem.
Estimativas divulgadas ontem pela Abiove, associação que representa indústrias processadoras instaladas no país, indicaram que os embarques do chamado "complexo soja" (inclui grão, farelo e óleo) deverão render US$ 23,676 bilhões em 2015, 20,2% menos que o valor projetado para este ano (US$ 29,661 bilhões).
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Se confirmadas as previsões, será o segundo ano consecutivo de retração do complexo, que puxa as exportações do setor de agronegócios no Brasil e é um dos principais atores da pauta nacional como um todo. Já por conta de queda de preços, a receita estimada para 2014 é 4,2% mais baixa que o recorde histórico de 2013 (US$ 30,965 bilhões).
O resultado projetado para o próximo ano decorre de uma equação formada por volumes maiores de grão e farelo destinados ao exterior e de uma forte e generalizada queda de preços - diretamente ligada ao incremento da oferta, expressivo também nos EUA nesta safra 2014/15, que naquele país está em fase de colheita.
E a Abiove nem está entre os atores mais otimistas em relação ao plantio no Brasil, que teve início em 15 de setembro. A entidade prevê que a colheita do grão somará 91 milhões de toneladas, ante 86,3 milhões em 2013/14. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por exemplo, espera quase 95 milhões de toneladas, em linha com as projeções de algumas consultorias privadas.
Em seu tabuleiro, a Abiove calcula que o volume dos embarques de soja em grão chegará a 48 milhões de toneladas em 2015 (ano civil), 6,7% mais que em 2014. Mas a entidade enxerga um preço médio de vendas de US$ 370 por tonelada, uma queda de 26% em igual comparação. Dessa forma, calcula que as exportações da matéria-prima renderão US$ 17,76 bilhões, 21,1% a menos que neste ano.
No caso do farelo, o volume estimado para embarques em 2015 é de 14,5 milhões de toneladas, 8,2% maior que o previsto para este ano. O preço médio de venda estimado para o ano que vem é de US$ 330 por tonelada, uma queda de 26,7% em relação à média estimada para este ano. Os embarques renderiam, nesse cenário, US$ 4,785 bilhões, em queda de 20,6%.
Para o óleo de soja, finalmente, a Abiove trabalha com um volume de exportações de 900 mil toneladas em 2015, 14,3% mais baixo que em 2014, e um preço médio de US$ 720 por tonelada (17,2% menor). Resultado: embarques estimados em US$ 1,131 bilhão no próximo ano, exatamente o mesmo patamar deste ano (ver quadro).
Apesar de concordarem que a temporada que está no início no Brasil será mesmo complicada para produtores e exportadores, com margens de lucro menores - e, em alguns casos, até negativas - que nos últimos ciclos, marcados por boas rentabilidades, alguns analistas e fontes do governo consideram que os números da Abiove são pessimistas demais.
Mas, a cada nova estimativa de produção global anunciada, mais voltas dá o torniquete. E também ontem, coincidentemente, foi a vez de o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) colocar um pouco mais de lenha na fogueira.
Embalado pelas boas perspectivas de colheita nos EUA e de plantio no Brasil, países que deverão ter safras recorde, o IGC elevou sua estimativa para a produção mundial de soja em 2014/15 para 310 milhões de toneladas, marca histórica 10% superior ao recorde observado em 2013/14 (282 milhões).
É por conta desse aumento expressivo, nem de perto acompanhado pelo ritmo de incremento da demanda, que as cotações entraram em aguda espiral baixista nos últimos meses. Ontem, em Chicago, os contratos futuros de segunda posição de entrega caíram um pouco mais (1,45%) e ampliaram as perdas acumuladas neste ano para quase 28%.
Fonte: Valor Econômico/Fernanda Pressinott e Fernando Lopes | De São Paulo