A queda generalizada das bolsas em todo mundo pode significar um potencial de expansão de crédito menor para o Banco do Brasil e uma diluição maior para os acionistas da Petrobras no processo de capitalização.
Essas são algumas das consequências caso as empresas decidam peitar o mercado e seguir em frente com as ofertas públicas de ações que planejam realizar.
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Procurado, o BB informou que não pode se pronunciar justamente por conta da oferta, que segue seu rumo. A Petrobras também garantiu que a baixa da bolsa não altera seu plano de fazer a capitalização até julho.
Agentes que atuam no setor entendem que a janela está fechada para aberturas de capital e que, no caso de empresas já listadas, é possível seguir adiante, mas haverá um preço a ser pago.
Isso vale mesmo para Banco do Brasil e Petrobras, que na visão de especialistas ainda têm condições de atrair investidores.
Quando o BB anunciou o tamanho de sua oferta, em 14 de abril, o total de 286 milhões de papéis a serem vendidos na operação primária equivaliam a R$ 8,8 bilhões. Se vendesse as ações pelo preço de ontem, o BB conseguiria levar para casa apenas R$ 7,2 bilhões, ou R$ 1,6 bilhão a menos.
No cenário inicial, a captação elevaria o potencial de empréstimos do banco em R$ 80 bilhões. Com a queda das ações, a capacidade de elevação adicional do crédito fica em R$ 65 bilhões.
No caso da Petrobras, a questão é um pouco diferente, uma vez que a estatal ainda não definiu o número de ações que serão vendidas. Por enquanto, a estatal disse apenas que precisa captar entre US$ 15 bilhões e US$ 25 bilhões.
Tomando por base o ponto médio de US$ 20 bilhões e o câmbio de R$ 1,802 da data em que esse intervalo foi citado, no dia 24 de março, chega-se ao montante de R$ 36 bilhões.
Se a Petrobras tivesse feito a operação pelas cotações daquele dia, isso exigiria elevar o capital da companhia em 10,7%, com emissão 942 milhões de ações.
Com base nas cotações de ontem, a companhia teria que elevar o capital em 13,9% para conseguir os mesmos R$ 36 bilhões, com a venda de 1,22 bilhão de novas ações, um volume 29% maior.
Na prática, isso significa aumento do potencial de diluição para os atuais acionistas e uma condição mais vantajosa para a entrada de novos investidores.
Segundo João Augusto da Frota Salles, da consultoria Lopes Filho & Associados, o BB "de fato está entre a cruz e a espada".
O Índice de Basileia do banco está hoje em 13,7%, acima do limite mínimo de 11% do Banco Central. No entanto, a parcela de capital próprio (de nível 1) está em 9,4%, enquanto o restante é formado por dívida subordinada e bônus perpétuos (nível 2). Os principais concorrentes do BB costumam manter o capital próprio no nível de 11% exigido pelo BC e usam a dívida subordinada para compor o restante do patrimônio de referência.
Com a oferta de R$ 8,8 bilhões, o capital de nível 1 do BB subiria para pouco mais de 11%. Se a oferta for de R$ 7,2 bilhões, o indicador ficará pouco abaixo disso.
Segundo Salles, o patamar atual de patrimônio do BB não compromete a expansão do crédito neste ano, mas afeta a capacidade de alavancagem do banco no longo prazo e seu plano de crescimento.
Em relação à Petrobras, a analista Mônica Araújo, da Ativa Corretora, destaca que a empresa até poderia adiar a operação, mas correria o risco de romper limites de endividamento que podem prejudicá-la tanto ou mais do que uma oferta de ações em condições adversas. "Mas ainda tem quase dois meses. Nesse periodo tudo pode acontecer", afirma Mônica, ao se referir ao prazo esperado para a oferta e à dúvida sobre a duração do atual quadro de incertezas.
Apesar da evidente piora de humor, algumas companhias que pretendem abrir capital mantiveram os esforços na divulgação do negócio e na relação com o mercado. É o caso da Brasil Insurance, que visitou alguns potenciais investidores na semana passada. Mas depois do nervosismo desta semana as empresas estão cientes de que a maré não está mesmo para peixe e recuaram.
Atualmente, existem oito companhias com oferta inicial de ações em análise na Comissão de Valores Mobiliários. Mas banqueiros de investimentos afirmam que, com o atual nível de aversão a risco, dificilmente será possível neste momento levar adiante uma abertura de capital. A recomendação aos clientes, portanto, é ter calma e esperar melhores condições.
No meio do caminho entre as aberturas de capital e as ofertas de gigantes como BB e Petrobras, existem casos como o da M. Dias Branco. A empresa do setor de alimentos, que estreou na bolsa em 2005, já havia tentado fazer uma oferta secundária no início do ano, adiou a operação por conta do mau momento do mercado e está agora na segunda tentativa.
O que vai determinar se a operação sai ou não é a disposição dos donos de aceitar vender seus papéis na atual condição. Quando a oferta foi retomada, em 4 de maio, a operação era avaliada em R$ 600 milhões e a ação valia R$ 41,85. Ontem, a cotação era de R$ 34,75, o que deixava a oferta com valor máximo de R$ 450 milhões. Mesmo com a baixa, o papel ainda supera com folga o preço de estreia na bolsa, de R$ 21.
Fonte; Valor Econômico/Fernando Torres e Graziella Valenti, de São Paulo
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