O megaleilão dos excedentes da cessão onerosa que o governo corre contra o tempo para viabilizar, em junho, ainda carece de algumas definições, mas promete ser uma das maiores licitações já realizadas na história. A expectativa, no mercado, é que a rodada atraia as gigantes do setor e as companhias asiáticas, sobretudo chinesas, com grande capacidade para investir.
A Wood Mackenzie estima que a licitação pode responder, sozinha, por metade dos volumes de barris descobertos a serem leiloados este ano no mundo. A consultoria calcula que os excedentes possam totalizar 10 bilhões de barris de óleo.
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Ainda não há, contudo, um consenso sobre qual o volume desse excedente, nem quanto estaria disponível para um leilão, já que existe a possibilidade de o acerto de contas ser feito em barris, e não dinheiro. Isso significa que, a depender de quem pagará a quem, e quanto, haverá mais ou menos barris disponíveis para o leilão.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) estima entre 6 bilhões e 15 bilhões de barris de óleo equivalente (BOE) o excedente, enquanto a Petrobras prevê que os volumes sejam menores.
"Vemos com muitos bons olhos o leilão, mas ainda aguardamos definições para que as empresas possam se preparar para o sucesso desses leilões", disse o secretário-executivo do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Antônio Guimarães. "Grandes empresas tem interesse nessas grandes áreas."
Para o diretor de pesquisas em exploração e produção da Wood Mackenzie para a América Latina, Horácio Cuenca, a participação no leilão deve se restringir ao seleto grupo das grandes petroleiras mundiais. "Os bônus de assinatura serão muito altos, a questão é saber quantas empresas terão capacidade para pagar por esses barris. O leilão vai atrair principalmente empresas que estejam procurando volumes para fortalecer suas curvas de produção, principalmente aquelas que ainda não possuem descobertas no pré-sal", avalia.
O consultor João Carlos de Luca, sócio-fundador da De Luca Energy Consulting, acredita que a rodada será uma "oportunidade extraordinária" para as empresas, por oferecer recursos já descobertos e que podem começar a produzir num intervalo de tempo relativamente curto, de três a quatro anos. "Isso aumenta o valor presente líquido (VPL) dos projetos e antecipa a geração de caixa", avalia.
Além do leilão dos excedentes, o governo pretende promover este ano a 4ª rodada de partilha, que ofertará cinco blocos exploratórios, no pré-sal, que totalizam um bônus de R$ 4,65 bilhões à União. Sobre a possibilidade de o leilão dos excedentes esvaziar o interesse pela 4ª Rodada de partilha, De Luca disse que "haverá espaço para todos", porque se tratam de leilões de perfis diferentes: enquanto a 4ª Rodada ofertará blocos ainda não explorados, o leilão dos excedentes disponibilizará ao mercado volumes já descobertos.
Questionado se as empresas terão fôlego para investir, depois de terem investido mais de R$ 30 bilhões em 2017, na aquisição de ativos no Brasil, De Luca disse que a licitação dos excedentes está no topo das prioridades das grandes petroleiras. "Oportunidades como essa são difíceis de aparecer", afirmou o executivo, que vê a alta dos preços do barril como fator positivo para elevar a capacidade de investimentos das companhias.
A realização do leilão dos excedentes em junho, no entanto, ainda é cercada de incertezas. A licitação depende da conclusão das tratativas entre Petrobras e União, para revisão do contrato da cessão onerosa - que concedeu à estatal o direito de produzir 5 bilhões de barris de petróleo, em 2010.
Para viabilizar o leilão, o governo precisará acelerar não só a conclusão da renegociação com a Petrobras, como também o encaminhamento de uma solução sobre o assunto no Congresso. Isso porque um eventual ressarcimento à Petrobras, em barris, exigiria uma mudança na lei, que só permite o pagamento da União em dinheiro.
Fonte: Valor