A Petrobras aumentou o lucro líquido em 11% no ano passado, alcançando R$ 23,57 bilhões. Apesar do ganho, a defasagem do preço da gasolina e a produção estagnada ainda afastam a estatal do desempenho de 2011.
O resultado de 2013 foi abastecido pelo reajuste no preço de combustíveis no final do ano, e somente garantido por venda de participação em negócios e ainda por uma fórmula que reduz o impacto da desvalorização do real.
No quarto trimestre, a empresa lucrou R$ 6,28 bilhões, 85% acima do trimestre anterior, mas 18,9% abaixo do mesmo período de 2012. Conforme analistas, o resultado foi turbinado pela decisão da Petrobras de adotar a contabilidade de hedge, uma prática que reduz o impacto da variação cambial sobre as dívidas em dólar. Os números também tiveram o efeito da venda de ativos por parte da empresa em 2013, que trouxeram ao seu caixa R$ 8,5 bilhões. Sem esse efeito, o lucro teria sido ainda menor do que o de 2012, já fraco.
Números que preocupam | Create Infographics
O resultado pode aliviar, momentaneamente, as pressões por reajustes no preço da gasolina para compensar as perdas com a importação do combustível para atender à demanda interna. Especialistas ouvidos por ZH avaliam que o governo dificilmente autorizará aumentos antes da eleições, ainda que critiquem essa decisão.
– Ainda que o ano passado tenha sido ruim para a Petrobras em razão da queda na produção e de prejuízo na venda de gasolina, dificilmente o governo autorizará alta de preço. Além de evitar o desgaste político, existe a preocupação em não dar novas armas para os protestos nas ruas – explica Walter de Vitto, especialista em petróleo da Tendências Consultoria.
Reajuste dependerá do ritmo geral da inflação
A preocupação em não romper o teto da meta da inflação, de 6,5%, deve levar o Planalto a aguardar pelo menos até outubro para decidir se autoriza a Petrobras a aumentar o preço da gasolina, avalia Mauricio Canêdo Pinheiro, pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV Rio. Como um eventual reajuste impacta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), a expectativa é de que o governo aguarde dados mais sólidos sobre o ritmo da inflação antes de bater o martelo por uma elevação. Em 2013, a gasolina subiu 10,9% nas refinarias, e o diesel, 19,6%. A consultoria Tendências aponta que a defasagem na gasolina ainda é grande, de 20% a 25%.
– Mesmo que não haja reajuste, os resultados da Petrobras devem ser melhores neste ano, puxados por um ganho de produção, pois novas plataformas entrarão em operação e a exploração do pré-sal deve avançar – projeta Canêdo Pinheiro.
Na prática, o represamento do preço dos combustíveis tem criado um buraco do qual torna-se cada vez mais difícil de sair, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Nos últimos seis anos, a dívida da Petrobras quadruplicou, comprometendo sua capacidade de investir e acelerar a produção.
– Políticas de congelamento de preços são fáceis de entrar, mas difíceis de sair – diz Pires.
A ingerência do governo sobre a Petrobras também tem fomentado disputas políticas no Congresso. A oposição começou a recolher ontem assinaturas para a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Congresso para apurar denúncias de irregularidades na empresa.
Vantagens e desvantagens
Os diferentes impactos de segurar reajustes da gasolina e do diesel
Custos menores
Para donos de carros e empresas que dependem de transporte rodoviário, reter aumentos pode ser vantagem por representar gastos menores.
Inflação menor
Evitar impacto nos preços é a principal meta do governo ao não autorizar reajuste. Se fosse repassada toda a defasagem, o IPCA, que fechou em 2013 em 5,91%, poderia ter superado o teto da meta, de 6,5%. Porém, quanto mais tempo essa política for usada, maior tende a ser o custo depois.
Ganho político
Percebido imediatamente pelo consumidor, o aumento de preços nunca é popular. Dessa maneira, o governo evita desgaste. Além disso, quando elevações nas refinarias são autorizadas, pode haver repasse acima do razoável nas bombas, como ocorreu no final de novembro. Ao travar esses movimentos, também há freio na especulação.
Estatal fragilizada
A Petrobras paga mais para importar combustível e não consegue repassar essa alta ao consumidor. Por isso, o lucro cai. Como a companhia é pressionada a investir no desenvolvimento da área do pré-sal, precisa captar dinheiro no mercado e eleva sua dívida, sofrendo um processo de deterioração.
Menos verde
Como o preço fica artificialmente menor para gasolina e diesel, os motoristas deixam de abastecer seus veículos com etanol. Além de atrasar o desenvolvimento desse setor, o maior consumo de combustíveis fósseis gera mais poluição.
Contas públicas
A queda no lucro da Petrobras afeta a arrecadação do governo, que deixa de receber impostos e dividendos sobre os resultados da estatal. A companhia também é obrigada a reduzir investimentos e movimenta menos a economia.
Fonte: ZERO HORA/Erik Farina
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