Presidente recomendou ao BNDES que concentre esforços para elevar investimentos em siderurgia
RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiu na defesa do aumento da produção nacional de aço na reunião de cerca de duas horas que teve com toda a diretoria do BNDES no Rio, na manhã de terça-feira, 6. Ao recomendar que o banco concentre esforços para elevar os investimentos em siderurgia, o presidente, mais uma vez, se disse inconformado com o fato de o Brasil, maior produtor mundial de minério de ferro, fabricar "somente 35 milhões de toneladas de aço".
Aos executivos do banco, Lula repetiu que gostaria de ver o País transformado em exportador de placas de aço e não de matéria-prima. Na prática, o banco não tem como "convencer" o setor a investir em novos projetos. Também não há, segundo fontes do BNDES, estudos para um programa com taxas específicas para o setor. Acionista da Vale, CSN e Usiminas, o banco pode, porém, participar da estratégia dessas empresas.
A retomada da demanda externa por aço e as vantagens competitivas do setor no Brasil estão por trás da insistência do presidente Lula. O BNDES compartilha do diagnóstico de que há uma oportunidade para o País no mercado internacional de semiacabados. A intenção não é estimular projetos voltados para o mercado interno, cuja demanda de aço é de apenas um terço da capacidade atual do parque nacional.
Lula quer aumentar a produção brasileira de placas para o exterior, que não sofrem as taxações do aço acabado. Ironicamente, a recente escalada do preço do minério, que aumenta a atratividade da exportação da commodity, pode ajudar a fortalecer esse propósito.
A recuperação mais lenta da demanda em relação à Ásia está levando ao fechamento de várias fábricas de semiacabados na Europa e nos Estados Unidos. O aumento do preço do minério em mais de 100% por gigantes como a Vale deve agravar ainda mais a dificuldade de compatibilizar custos e vendas nesses países. Para o presidente, o Brasil tem o maior potencial para ocupar esse espaço.
"Por vias transversas, o aumento do preço do minério pode beneficiar o Brasil. O País é o que tem o custo mais baixo de produção de aço, com o maior potencial de produzir placas a preços competitivos", diz um técnico do banco. O que o governo quer é multiplicar no País o modelo da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), que começa a operar no Rio em julho. Parceria entre a Vale e o grupo alemão ThyssenKrupp, a CSA terá capacidade de produzir 5 milhões de toneladas de placas até 2011.
O empreendimento alia o acesso ao minério de boa qualidade da Vale às vantagens logísticas da localização às margens da Baía de Sepetiba, que permite embarque imediato da produção em terminal privativo para laminação na unidade americana da Thyssen.
Como um projeto como este leva, em média, cinco anos para sair do papel, o governo quer agilizar os investimentos e pressiona a Vale a encontrar outros parceiros estratégicos para reproduzir o modelo. O BNDES acena com financiamentos e pode oferecer condições mais atraentes do que do caso da CSA, por exemplo. O banco financiou R$ 1,5 bilhão do projeto de R$ 12 bilhões.
Para o técnico do BNDES, o aumento do interesse de sócios estratégicos se dará na medida em que a turbulência internacional provocada pela crise vai se dissipando. A Vale já anunciou projetos siderúrgicos no Pará e Espírito Santo e fechou parceria com a Dongkuk para um empreendimento no Ceará. O empresário Eike Batista se associou com a chinesa Wuhan Iron & Steel (Wisco) para instalar uma siderúrgica no Porto do Açu, no Norte Fluminense.
"O modelo é o de acesso ao minério com preço fixo e a entrega a um sócio estratégico. Não é para vender placas no mercado à vista", explica o técnico. Segundo ele, a entrada em operação do primeiro alto forno da CSA este ano deve fazer o Brasil fechar o ano com capacidade de produção de placas de quase 49 milhões de toneladas anuais.
Só com os projetos já anunciados, a capacidade poderá alcançar 70 milhões de toneladas em 2016. No início deste ano, o BNDES estimou que R$ 44 bilhões serão investidos na siderurgia brasileira até 2013, quase 60% a mais do que o realizado nos quatro anos anteriores à crise, entre 2005 e 2008.
Depois de receber pesadas críticas do presidente da Lula ao longo de 2009 por sua timidez em investimentos siderúrgicos, a Vale confirmou em seu último plano estratégico a intenção de levar adiante quatro projetos no setor. Ao todo, as operações em siderurgia vão somar US$ 343 milhões no ano que vem, o que corresponde a 2,7% do orçamento previsto pela Vale.
A vitória do governo nessa queda-de-braço se evidencia com a inclusão no orçamento de uma usina no Pará, que já vai receber US$ 192 milhões este ano. A construção de uma siderúrgica no Estado governado pela petista Ana Júlia Carepa era uma das obras mais cobradas pelo governo.
Projetos
A Aços Laminados do Pará (Alpa), prevista para entrar em operação em 2013, recebeu do governo local, há uma semana, licença ambiental prévia. A expectativa da empresa é iniciar as obras de terraplenagem no segundo semestre. Com investimento total estimado em US$ 2,760 bilhões, a Alpa foi planejada para ter capacidade para 2,5 milhões de toneladas de produção de placas com destino à exportação. Mas, em seu plano estratégico, a empresa destacou que o desenvolvimento do projeto depende de "diversos investimentos públicos em infraestrutura".
Assim como no Pará, a Vale também decidiu tocar sozinha o projeto de construir uma usina no Espírito Santo. Mas a mineradora brasileira não nega a intenção de buscar no futuro um parceiro para o projeto. A Companhia Siderúrgica de Ubu (ES) é a que está em fase mais inicial. Até o momento, o projeto, previsto para entrar em operação em 2014, ainda não obteve nenhuma licença ambiental e a companhia ainda trabalha na aquisição de terrenos para a construção da usina.
Prometida desde o final de 2003, a Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), no Ceará, feita em parceria com a sul-coreana Dongkuk já obteve todas as licenças ambientais e agora se prepara para entrar na fase das obras de terraplanagem. O cronograma do projeto também prevê para 2014 o início das operações na CSP.
O investimento em siderurgia em fase mais adiantada da Vale é a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio de Janeiro. Depois de alguns adiamentos e várias revisões em seu orçamento, a usina em parceria com a européia alemã ThyssenKrupp deve começar a operar em junho.
Em 2009, para evitar a paralisação do projeto, a Vale teve de injetar mais dinheiro na CSA (US$ 1,3 bilhão) por meio de um aumento no capital da companhia de 10% para 26,87%. A parceira alemã Thyssen foi uma das siderúrgicas europeias mais atingidas pela crise internacional, que derrubou drasticamente a demanda mundial por aço.
(Fonte: da Agência Estado/Irany Tereza, Monica Ciarelli e Alexandre Rodrigues)
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