Os preços do minério de ferro caíram pelo segundo dia consecutivo no mercado transoceânico, diante das restrições do governo à produção de aço no Norte da China e dos sinais de que a oferta de produtos siderúrgicos pode ter superado a demanda naquele mercado. Nesse ambiente, que impõe mais riscos de desvalorização do que de alta, o banco suíço J ulius Baer mudou de neutra para cautelosa a expectativa para o minério.
Com quedas entre 4,5% e 6,5% desde as máximas da semana passada, a commodity vinha em um rali que começa a enfrentar resistências, escreveu o chefe de pesquisa do banco, Carsten Menke. Para 12 meses, o Julius Baer tem preço-alvo de US$ 75 por tonelada da matéria-prima siderúrgica, refletindo a expectativa de recuperação da produção no Brasil e de arrefecimento da demanda na China. Em três meses, a projeção do fim de junho era de preço-alvo de US$ 95 por tonelada.
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Após a baixa de quase 3% de anteontem no mercado à vista, a tonelada do minério com pureza média de 62% entregue no porto de Qingdao caiu 0,4% ontem, ou US$ 0,51, para US$ 117,82, de acordo com a publicação especializada "Fastmarkets MB". Já os contratos mais líquidos com entrega em setembro registraram perda de 5 yuans na Bolsa de Commodity de Dalian, para 880 yuans a tonelada.
Além de limitar as operações nas siderúrgicas do Norte da China por alguns dias em julho, especialmente no processo de sinterização do minério fino, o governo impôs a redução da movimentação de caminhões nos portos de Jingtang e Caofeidian entre 22 e 29 de julho, de acordo com fontes da indústria ouvidas pela Fastmarkets MB.
Do lado da oferta, a Vale anunciou que a produção de finos de minério recuou 34% no 2º trimestre, para 64 milhões de toneladas, em linha com o esperado pelo mercado. Por outro lado, a mineradora brasileira comercializou 4,5% mais pelotas e finos, seu principal produto, no intervalo, frente aos três primeiros meses do ano (70,8 milhões de toneladas). Os números indicam que a produção pode ter se estabilizado após o desastre em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro, com reflexos na oferta global.
Para Menke, o cenário de aperto na relação entre oferta e demanda de minério está se suavizando, com a menor ocorrência de interrupções de operações, o aumento dos estoques de produtos siderúrgicos e a produção de aço deixando para trás o pico sazonal. Do lado da oferta, no Brasil, as exportações de minério começaram a se recuperar com a retomada de operações da Vale e, na Austrália, os embarques no maior porto local para a commodity atingiram novo recorde em junho.
Já a demanda de matéria-prima pelas siderúrgicas chinesas, acrescenta Menke, deve se enfraquecer nos próximos meses, acompanhando a menor produção de aço do país e, uma vez que essas usinas operaram em ritmo acelerado em boa parte do ano, "sinais de excesso de oferta estão se materializando".
Segundo o especialista, os estoques de aço detidos por traders na China começaram a subir no início de junho, embora tipicamente mostrem um declínio gradual ao longo do verão no Hemisfério Norte. "Vemos mais risco de desvalorização do que de alta para os preços [do minério], mesmo no curto prazo. Enquanto isso, para o aço, acreditamos que os preços devam permanecer limitados. No longo prazo, a transição da China do crescimento impulsionado pelo investimento para o consumo se tornará um obstáculo à demanda de aço e a maior oferta de sucata reduzirá a dependência das siderúrgicas do minério de ferro", escreveu.
Na sexta-feira, a Fastmarkets MB informou que os estoques de minério nos 45 principais portos chineses totalizaram 116,82 milhões de toneladas, com alta de 2,69 milhões de toneladas frente à semana passada. Esse foi o primeiro aumento desde maio.
Fonte: Valor