Minerar ferro tornou-se a atividade mais rentável para as fabricantes de aço no país. Parece um contrassenso, mas as siderúrgicas argumentam que se trata de um movimento defensivo contra a alta exorbitante dos preços de suas duas principais matérias-primas - minério de ferro e carvão - desde 2005.
As margens de ganho no resultado operacional advindas da atividade de produção de minério de ferro são de dar água na boca - alcançaram 68% tanto na Usiminas quanto na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no segundo trimestre. Bem diferente do aço: 29% na CSN e apenas 7% na siderúrgica mineira, que ainda engatinha na atividade de mineração.
A CSN, que divulgou seu balanço desse período ontem pela manhã, um dia depois da concorrente Usiminas, tem uma estratégia não apenas defensiva. Ao contrário, enxerga esse ramo como um grande negócio, tocado obstinadamente por seu principal acionista, Benjamin Steinbruch.
A CSN, até 2001, era uma das principais acionistas da Vale, maior mineradora de ferro do mundo. Ao deixar o bloco de controle da mineradora, decidiu explorar não apenas cativamente as ricas reservas de minério de sua mina, Casa de Pedra. O plano é agressivo: ficar entre as cinco maiores mineradoras de ferro do mundo.
Com isso, a empresa, dona de minério de ferro, autossuficiente em energia e dona de logística ferroviária e portuária, obtém margens operacionais acima da média mundial da siderurgia, liderando a geração de valor aos seus acionistas, conforme estudo recente do Citigroup baseado no conceito de valor econômico agregado (EVA, na sigla em inglês).
O balanço da CSN mostra que a venda de minério de ferro rendeu receita líquida de R$ 1,52 bilhão de abril a junho, 34% do total de R$ 4,3 bilhões obtidos nos cinco negócios da companhia. No entanto, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançou R$ 1,04 bilhão, representando 54% do resultado operacional da companhia. A fabricação de aço, com 57% (R$ 2,51 bilhões) da receita líquida foi responsável por 38% do Ebitda, com valor de R$ 733 milhões.
Essa inversão de papéis vem se verificando a cada trimestre, desde o último período do ano passado. O aço passou de R$ 1,16 bilhão entre outubro e dezembro para R$ 693 milhões no primeiro trimestre deste ano. Já o resultado da mineração seguiu crescente: saiu, no mesmo período, de R$ 551 milhões, subiu para R$ 792 milhões de janeiro a março e, agora, superou a marca de R$ 1 bilhão.
Além de aço e mineração, a CSN atua em três outros negócios: logística - 6% da receita líquida e do Ebitda -, cimento (2% da receita e 1% do resultado operacional) e energia, com 1% de cada.
A atividade de minério de ferro, com venda acima de 13 milhões de toneladas no ano, levou a CSN a obter recorde de receita líquida em um determinado semestre, com R$ 8,1 bilhões de janeiro a junho passado. E a meta de Steinbruch, em algum ano até 2015, é fazer mais de 100 milhões de toneladas do produto por ano.
Graças ao desempenho desse negócio, acelerado a partir de 2005, com receita de R$ 2,7 bilhões até junho, a empresa de Steinbruch pode obter uma margem Ebitda média de 41% no segundo trimestre. Quase quatro vezes o índice de 12% obtido pela Usiminas.
Fonte:Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
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