Da mesma maneira que, durante o período de alta, os preços do aço ajudaram na valorização do minério de ferro, a recente queda observada principalmente na China também pesou sobre sua principal matéria-prima. Na semana passada, a bobina a quente caiu 14%, cotada em torno de US$ 430 a tonelada - após subir US$ 200 no início do ano -, enquanto o minério com pureza de 62% recuou 7% no porto de Tianjin, segundo a "The Steel Index", para US$ 53,50.
Para a consultoria Capital Economics, houve uma freada na confiança que o mercado depositou na recuperação econômica da China. Não só o minério e o aço, como o cobre e outros metais industriais foram pressionados nesta primeira quinzena de maio por conta das dúvidas quanto à demanda do gigante asiático por essas commodities.
PUBLICIDADE
A instituição, contudo, vê possibilidade de continuidade no setor de construção chinês, o que continuaria a acelerar o consumo de aço e, consequentemente, a procura por minério. "Acreditamos na retomada da atividade na China durante o segundo semestre, o que traria recuperação", afirmam os analistas.
Durante a teleconferência em que comentou os resultados do primeiro trimestre, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), segunda maior exportadora de minério do Brasil, demonstrou confiança sobre os preços do insumo. Benjamin Steinbruch, presidente do grupo, afirmou que não espera mais grandes tropeços na cotação da matéria-prima neste ano e que aguarda nível de no mínimo US$ 55 até dezembro.
No ano até sexta-feira, a commodity foi negociada a média de US$ 51,70. Durante igual período de 2015, o patamar havia sido de US$ 58,70. Portanto na comparação anual é observada queda. Mas se for considerado apenas o segundo trimestre deste ano, quando o minério chegou próximo a US$ 70, a média é de US$ 58,80 até o dia 13 - alta de 1,7% na comparação com o segundo trimestre cheio e de 22,2% ante a cotação de janeiro a março.
Se for considerado o preço da commodity em reais, que é como a receita é contabilizada para Vale e CSN, por exemplo, o avanço é mais expressivo. A média do início de abril até sexta-feira ficou em R$ 208,62, 17,5% a mais do que em todo segundo trimestre do ano passado e alta de 11,2% perante os três primeiros meses de 2016.
De acordo com o Commerzbank, o minério perdeu força recentemente por conta do controle chinês sobre a especulação. Contratos de aposta na alta das commodities em mercados futuros dispararam, também impulsionando os valores na negociação à vista e levaram as autoridades a aumentarem as taxas sobre essas transações. A decisão, diz o banco, parece ter dado certo.
Na Bolsa de Cingapura, o minério também reage à piora do mercado à vista. Os contratos futuros mais negociados, com vencimento em junho, caíram 1,2% na sexta-feira, para US$ 49,80. Os contratos mais longos, para entrega em setembro, terminaram cotados em US$ 44,12.
Em relatório publicado no dia 11, os analistas Gabriela Cortez e Victor Penna, do BB Investimentos, declararam que possivelmente em maio os preços da commodity permaneçam em níveis ainda altos. "[A sustentação] virá na esteira da maior produção de aço no mundo e deve melhorar a receita das mineradoras", escreveu a dupla.
Mas no geral, as previsões são de que o excesso de oferta do minério continue pesando sobre o insumo até o fim de 2016. A Capital Economics espera média de US$ 45 no quarto trimestre e o Goldman Sachs vê patamar perto de US$ 35 nos últimos dias do ano. O BTG Pactual crê em nivel abaixo de US$ 50.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo