A Vale acaba de entregar uma usina siderúrgica no Rio de Janeiro (em parceria com a ThyssenKrupp), hoje começa outra no Pará, tem uma terceira em construção no Ceará, e dentro de três meses vai pedir licenciamento ambiental para uma quarta planta, no Espírito santo. Apesar do esforço, o presidente da Vale, Roger Agnelli, afirma nesta entrevista que a incursão da mineradora nessa área deverá ser transitória, para abrir caminho para o aumento da produção de aço no Brasil.
As siderúrgicas estão comprando minas de ferro para diminuir a dependência das mineradoras, como a Vale. Vocês estão fazendo a mesma coisa com eles?
É outra coisa. A Vale continua focada na mineração. A participação em siderurgia é uma participação de fomento. A gente queria que nossos clientes (as siderúrgicas) investissem, mas eles estão cautelosos. Por isso, investimos nós, mesmo que esse investimento seja transitório.
A Vale vai ficar na siderurgia ou está construindo as usinas para vendê-las mais tarde?
Enquanto essas empresas precisarem da presença da Vale, a gente permanece. No dia em que essas usinas chegarem à maturidade, a gente pode pensar em vender, como foi o caso da Usiminas.
A Vale está construindo siderúrgicas porque o presidente Lula pediu?
A Vale sempre fomentou o parque siderúrgico, tanto que os últimos altos-fornos construídos no Brasil (da Companhia Siderúrgica de Tubarão) foram feitos com a participação da Vale. A Vale já tinha esses projetos siderúrgicos. O projeto que teve esforço e insistência do presidente Lula foi o do Pará, que vamos começar amanhã (hoje).
Analistas dizem há tempos que esse projeto do Pará não é economicamente viável.
Ele já é viável. O governo vai investir em infraestrutura, investindo num porto, no término das eclusas da Hidrelétrica de Tucuruí e no deslocamento do rio. Além disso, nós conseguimos levar para o Pará a Aços Cearenses, um parceiro para fazer o acabamento do aço produzido na Alpa (Aços Laminados do Pará). E, além disso, ainda tem a proximidade com o melhor minério de ferro do mundo, que é o da mina de Carajás. Isso tudo deixou o projeto viável.
De qualquer forma, o aumento da exportação de aço vai agregar valor ao minério, que é um produto primário e....
Essa conversa de primarização da pauta de exportação brasileira está errada. A exportação de produtos primários cresceu por causa da tecnologia. A exportação de grãos cresceu porque a Embrapa (estatal de pesquisa na área agrícola) dá um show, o suco de laranja ganhou mercado porque empresas como a Cutrale têm feito um trabalho maravilhoso, e com a Vale é a mesma coisa. Os manufaturados também estão crescendo, só que menos. Por quê? Porque falta inovação. Não é só por causa do dólar. / D.F.
Fonte: O Estado de S.Paulo/Roger Agnelli, Presidente da Vale
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