Após quatro meses de negociações, a Petrobras Biocombustível (PBio) e a São Martinho anunciaram ontem uma parceria estratégica em etanol que terá foco em investimentos no Centro-Oeste, conforme antecipou o Valor. Batizada de Nova Fronteira Bioenergia S.A., a nova empresa terá capital social de R$ 858,8 milhões, resultado de um aporte de R$ 420,8 milhões da Petrobras, que deterá 49% de participação na sociedade, e da transferência de ativos avaliados em R$ 438 milhões da São Martinho, que será majoritária com 51%.
O principal ativo do grupo paulista a ser incorporado na nova empresa será a usina Boa Vista, de Quirinópolis (GO), que já tem capacidade para moer 2,5 milhões de toneladas de cana. A SMBJ Agroindustrial, um projeto greenfield em planejamento na cidade de Bom Jesus de Goiás (GO), também entrará no negócio.
A Nova Fronteira Bioenergia nasce predestinada a ser a plataforma de investimento em etanol e energia da estatal na região Centro-Oeste, da mesma forma que a Açúcar Guarani, primeiro grande grupo a se associar à Petrobras, tornou-se o pivô de articulação em etanol da estatal em São Paulo.
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Apesar da restrição em apresentar planos, diante do período de silêncio em que se encontram as duas empresas, São Martinho e Petrobras revelam nas entrelinhas que os projetos da recém-criada devem ir além da ampliação da capacidade da unidade Boa Vista para 7 milhões de toneladas de cana, e da construção de uma outra usina em município vizinho a Quirinópolis, em Bom Jesus de Goiás.
A começar pela estratégia de criar uma nova empresa, em vez de comprar uma participação direta na São Martinho, nos moldes de como ocorreu com a Açúcar Guarani. "A existência de uma nova sociedade está atrelada à ambição de crescimento desta nova companhia que será a principal alavanca de expansão no Centro-Oeste", disse o CEO da São Martinho, Fábio Venturelli, que negou que a Nova Fronteira tenha, neste momento, planos de abrir capital em bolsa.
A parceria na região também parece ter reativado o ânimo da estatal com seus projetos logísticos de etanol, alguns com potencial de sinergia com os próprios projetos da São Martinho nessa área.
Na coletiva, concedida à imprensa na manhã de ontem, o presidente da Petrobras Biocombustíveis, Miguel Rossetto, explicou que a reafirmação do Centro-Oeste como região de expansão reforça a confiança nos investimentos previstos para o alcoolduto, via PMCC, parceria da estatal com a Mitsui e Camargo Corrêa. "Temos grandes expectativas em relação a esses projetos, tanto do alcoolduto como do de transporte hidroviário", disse Rossetto. A São Martinho tem licença de operação de um terminal hidroviário no porto de São Simão (GO), até o momento, sem previsão de ser construído.
O aporte da Petrobras será feito em duas etapas. A primeira, de R$ 257,6 milhões, após a conclusão da due dilligence, em 90 dias. O restante, nos doze meses seguintes. Já a companhia paulista, além de transferir seus ativos de Goiás, também incorporou na nova empresa dívida líquida de R$ 409,5 milhões contraídas justamente nos projetos do Centro-Oeste. Com a transferência do passivo, a São Martinho reduzirá quase pela metade sua dívida líquida que, ao fim do terceiro trimestre da safra 2009/10, era de R$ 953 milhões.
A São Martinho ficará com as duas usinas paulistas (São Martinho e Iracemápolis), que juntas moem 11 milhões de toneladas.
Na safra passada, a Boa Vista moeu 2,1 milhões de toneladas de cana e produziu 190 milhões de litros de etanol. Em condições de mercado, a PBio terá direito de preferência na compra de até 49% da produção de etanol e de energia da nova sociedade. A gestão também será compartilhada. O diretor-presidente e o de operações da Nova Fronteira serão indicados pela São Martinho e as diretorias financeira e administrativa, pela PBio.
Esta já é a terceira incursão da Petrobras na produção de etanol. Em dezembro passado, comprou 40,4% da usina Total (MG), por R$ 150 milhões e, segundo Rossetto, estão sendo feitos investimentos para dobrar a produção dessa unidade para 200 milhões de litros por safra. No fim de abril, também comprou 45% da Açúcar Guarani por R$ 1,6 bilhão que serão aplicados nos próximos cinco anos.
Com as três parcerias, a Petrobras soma processamento de 24 milhões de toneladas e produção de 890 milhões de litros de etanol, volume que deve atingir 2,6 bilhões de litros até 2014, segundo o novo plano da estatal, que até lá pretende ter entre 4% e 5% do etanol produzido no país.
Fonte: Valor Econômico/Fabiana Batista, de São Paulo
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