Durante décadas, as atividades de mineração no Estado americano de Minnesota descartavam pilhas de pedras com resíduos de minérios, considerados irrecuperáveis, e as deixavam do lado de fora de uma das reservas de minério de ferro mais ricas do mundo.
Larry Lehtinen, engenheiro com experiência em siderurgia e mineração, enxergou uma oportunidade naquilo que era considerado refugo, especialmente quando houve uma alta no minério. Graças à forte economia da China, o preço do minério de ferro, ingrediente essencial na fabricação do aço, aumentou dez vezes nos últimos dez anos.
Mas Lehtinen precisava de uma maneira eficaz de extrair os resíduos de minério e processá-los em pequenas pelotas, que pudessem entrar como matéria-prima na siderurgia. Outros métodos, envolvendo a força centrífuga, já haviam sido desenvolvidos, mas deixavam muito minério de ferro nas rochas, disse ele.
Sua solução: uma nova tecnologia baseada em ímãs, desenvolvida pela sua empresa, Magnetation Inc., sediada no extremo oeste da Cadeia do Mesabi, um enorme depósito de minério de ferro no nordeste de Minnesota. A Magnetation agora tem sete máquinas capazes de processar anualmente um total de sete milhões de toneladas de minério de ferro.
"É uma maneira de obter valor do que era considerado apenas resíduo no século passado", diz Lehtinen, que é o diretor-presidente da companhia.
A Magnetation se considera uma empresa de reciclagem, transformando resíduos abandonados da mineração em algo útil. Esses esforços devem tornar-se mais significativos em todo o setor de mineração à medida que as reservas existentes vão se esgotando.
"Há toda uma gama de resíduos que contêm valor, e que é possível recuperar por meio de novas tecnologias em desenvolvimento", diz Patrick Taylor, professor na Escola de Minas do Colorado. Ele disse que, no momento, tem dois alunos de doutorado pesquisando se é possível para uma mineradora produzir cobre aproveitando placas de circuito impresso de computadores descartados.
Recuperar o metal de resíduos descartados não é um conceito novo, mas tem sido usado principalmente para metais preciosos como ouro e prata, diz John DeYoung, do Serviço Geológico dos Estados Unidos.
No passado, os preços do minério de ferro eram muito baixos para justificar o processo. Mas desde 2000, o preço da tonelada disparou de US$ 12 para cerca de US$ 123, tornando viável investir nessa tecnologia, diz o filho de 31 anos de Lehtinen, Matthew, que é diretor de operações da firma.
Outro fato que estimula a tendência é a quantidade cada vez menor de minério de ferro de alta qualidade. Durante o século passado, as mineradoras acorreram para o norte de Minnesota para extrair minério de mais alta qualidade e enviá-lo em navios enormes para as várias cidades com atividade siderúrgica na região dos Grandes Lagos, no norte dos EUA. As siderúrgicas não estavam interessadas em rochas com concentrações menores de minério de ferro, que exigem mais calor e mais processamento para fabricar o aço.
Como resultado, a rocha comercialmente inutilizável, conhecida no setor como ganga, acumulava-se em enormes pilhas, algumas com seis andares de altura e o comprimento de um campo de futebol. A Magnetation estima que existam mais de 60 milhões de toneladas de minério de ferro concentrado nessas pilhas, ou seja, o equivalente a um ano da produção de minério de ferro nos EUA. A empresa compra das mineradoras as pilhas descartadas e as transforma em uma polpa.
A Magnetation foi fundada por um inventor que criou um equipamento chamado Ferrous Wheel (roda ferrosa), usando ímãs para extrair o concentrado de minério de ferro a partir da polpa de minério. A empresa foi comprada por Lehtinen, que antes trabalhou na siderúrgica Steel Dynamics Inc. e na mineradora Cliffs Natural Resources Inc., ambas americanas.
Ele e seus dois filhos iniciaram as operações em fevereiro de 2009. Apesar de alguns sucessos iniciais, os engenheiros não estavam satisfeitos com a Ferrous Wheel, cujos ímãs deixavam para trás cerca de 65% do metal recuperável e consumiam muita energia.
Os Lehtinen inventaram um tipo de ímã patenteado que tem um campo de força mais poderoso e consome menos energia. Também desenvolveram uma máquina separadora chamada Rev3, de 23 metros de altura e 12 de largura, que contém 120 ímãs, cada um mais ou menos do tamanho de um pneu grande. Uma vez que a polpa de minério de ferro é bombeada para dentro da Rev3, os imãs prendem o minério de ferro, enquanto a gravidade leva o resto dos resíduos para o fundo.
O minério de ferro assim capturado é então derretido e misturado a outros ingredientes estipulados pelas siderúrgicas. O produto derretido é girado, formando pequenas esferas do tamanho de bolas de gude, chamadas bolas verdes. As bolinhas são então aquecidas a 1.200 graus Celsius e passam a conter um teor de 62% a 65% de minério de ferro, que é um nível de alta concentração.
A Magnetation começou a vender as pelotas para duas siderúrgicas, a AK Steel Corp., sediada em Middleton, no Estado americano de Ohio, e a siderúrgica mexicana Altos Hornos de México SAB de CV.
A AK Steel formou uma joint venture com a Magnetation para construir uma fábrica capaz de produzir três milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro para a siderúrgica, a qual consome cerca de seis milhões de toneladas por ano. "Neste momento, não possuímos nenhum fornecimento de minério de ferro e estamos sujeitos às oscilações voláteis do mercado de minério de ferro", diz Barry Racey, porta-voz da AK Steel. A empresa informou em outubro que concordou em investir US$ 297,5 milhões no projeto.
Os ambientalistas dizem que apoiam a ideia de reciclar, em vez de escavar novas minas, mas alertam que também há o risco de poluir o ar, se a reciclagem for feita de forma inadequada.
"Pode ser mais eficiente do que a mineração, porque não exige explodir rochas duras, mas ainda exige escavar o solo, com os impactos associados a isso", diz John Nichols, do Wild Earth Guardians, um grupo ambiental.
Fonte: Valor Econômico/John W. Miller | The Wall Street Journal
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