Indicado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para ser o novo ministro das Relações Exteriores, o diplomata Ernesto Henrique Fraga Araújo afirmou, em um blog que ele manteve durante a eleição para criticar o PT e defender o voto em Bolsonaro, que a "causa ambiental" foi criada por conservadores, mas capturada pela esquerda, que a "perverteu" e transformou na "ideologia da mudança climática".
"O climatismo juntou alguns dados que sugeriam uma correlação do aumento de temperaturas com o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, ignorou dados que sugeriam o contrário, e criou um dogma "científico" que ninguém mais pode contestar sob pena de ser excomungado da boa sociedade", escreveu o novo chanceler.
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Essa defesa da mudança climática, continua, é "basicamente uma tática globalista de instilar o medo para obter mais poder". "Esse dogma vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China."
Bolsonaro cogita em retirar o Brasil do Acordo de Paris, que prevê a redução de emissão dióxido de carbono a partir de 2020. O presidente eleito quer seguir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que saiu do tratado da Organização das Nações Unidas (ONU) sob a alegação de que era ruim para o desenvolvimento econômico de seu país.
O novo chanceler não tratou disso explicitamente em seus textos, mas, em um dos artigos, diz que os "os administradores do discurso globalista" transformaram o Acordo de Paris em sinônimo de "democracia" quando passaram a não ter mais maioria nas urnas.
A Coordenação do Observatório do Clima, rede de 37 ONGs, disse ontem as ideias do futuro chanceler farão o Brasil abdicar de uma liderança internacional "em nome de uma ideologia de tons paranoicos que contrariaria diretamente o interesse nacional". "Resta esperar que o cargo e suas responsabilidades tornem o chanceler Ernesto Araújo muito diferente do blogueiro Ernesto Araújo", criticou.
No blog, Araújo não se identifica como diplomata, mas diz que tem 28 anos de serviço público e é também escritor. "Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante".
Sem nunca ter chefiado um posto no exterior, Araújo estava na direção do Departamento dos Estados Unidos e Canadá. Foi promovido no dia 26 de junho, "por merecimento", ao cargo de Ministro de Primeira Classe com a transferência de um colega para o quadro especial do serviço exterior. Dentro do ministério, um dos com hierarquia mais rígida da Esplanada, a escolha de um embaixador recém-promovido foi vista com desconfiança, comparada por eles a um general três-estrelas assumir o comando do Ministério da Defesa.
Em nota divulgada no Twitter de Filipe Martins, assessor do PSL para assuntos internacionais que foi um dos responsáveis por sua indicação, Araújo afirmou que atuará com "coragem para ser parte da mudança que o povo pediu nas urnas". Sem dar detalhes de seus planos, disse que trabalhará para "aprofundar iniciativas lançadas com competência pela atual gestão" e outras na economia, comércio, cultura, tecnologia e "na promoção da democracia e das liberdades fundamentais em todo o mundo".
Fonte: Valor