Com risco de entrar em recuperação judicial, a Odebrecht S.A. está tentando evitar que os bancos cobrem R$ 20 bilhões dados por ela como garantia para empréstimos das companhias do conglomerado. A pressão aumentou com a ameaça da Caixa de exigir o pagamento antecipado de suas dívidas e o fim das negociações para a venda de sua controlada Braskem para a holandesa LyondellBasell.
Além da Caixa, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) têm grandes créditos a receber do grupo. Na outra ponta, as empresas do conglomerado que têm dívidas – e, portanto, comprometem a Odebrecht S.A. –, estão Atvos, Ocyan, OEC e Braskem. As negociações são individuais e uma das principais conversas deve acontecer segunda-feira, quando os bancos sentarão com a Atvos, em recuperação judicial.
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O grupo já vinha trabalhando em um plano para renegociar os R$ 20 bilhões com os bancos, mas o pedido de recuperação da Atvos tornou tudo mais difícil.
Isso porque a Caixa e o Votorantim são os únicos credores que não têm papéis da Braskem, considerada a mais atraente empresa do grupo, como garantias para seus empréstimos. Essas ações foram dadas pela Odebrecht S.A., em 2016, para garantir um empréstimo de R$ 6 bilhões, majoritariamente concedido por BNDES e Banco do Brasil e que tiveram a antiga Odebrecht Agroindustrial, renomeada Atvos, como principal destino. Santander, Itaú e Bradesco também têm empréstimos garantidos com ações da Braskem.
Com o pedido de recuperação judicial da Atvos, a Caixa passou a exigir da Odebrecht as mesmas condições em garantias, ou ações da Braskem, aos já detidos pelos demais bancos.
Na segunda-feira, portanto, a conversa tende a envolver o compartilhamento das ações da Braskem com a Caixa.
Segundo fontes, o esforço da Odebrecht é para convencer os bancos que, a exemplo do que ocorreu com a Atvos, apertar o gatilho pode tornar mais difícil recuperar os créditos. Pretende, assim, negociar prazo para prosseguir com seu plano de venda de ativos e reestruturação das dívidas das empresas.
Fontes disseram também que a companhia tentará mostrar aos bancos que as ações da Braskem podem ganhar valor e criar uma saída organizada para o problema. O argumento é de que o interesse da LyondellBasell provaria de que a companhia é um ativo atraente.
De toda a forma, interlocutores próximos à Odebrecht dizem que o grupo está ciente do risco. Ou seja, entende que o jogo está nas mãos dos bancos.
Renato Franco, sócio da Integra Associados, que reestrutura empresas, afirma que as instituições públicas enfrentam limitações com relação a prestação de contas e a responsabilização das pessoas físicas por decisões tomadas – o que deixa os executivos menos propensos a dar seu aval a operações que possam resultar em prejuízo.
Ele diz, porém, que os bancos privados e até o próprio Banco do Brasil têm feito esforços para recuperar créditos e criado áreas para lidar com situações de crise. “A predisposição dos bancos têm sido de evitar a recuperação judicial”, afirma.
O especialista diz ainda que, em alguns casos, podem ser negociadas soluções alternativas entre bancos privados e públicos. Ele lembra, por exemplo, do caso da Eneva, ex-MPX, de Eike Batista no qual só as holdings entraram em recuperação judicial e as companhias operacionais foram preservadas. “O BNDES poderia ter colocado todo o grupo em recuperação judicial. Em acordo com bancos privados, esse desfecho foi evitado.”
A Eneva tinha dívida de R$ 10,2 bilhões, mas apenas R$ 2,4 bilhões da holding entraram na recuperação. O restante foi renegociado fora da supervisão da Justiça. No caso da Odebrecht, fora a holding, correm renegociações em várias empresas do grupo, sendo as principais a construtora OEC, a empresa de incorporação imobiliária OR e a de logística OTP. Procurada, a Odebrecht não comentou.
Fonte: Estadão