A economia mundial está se movendo de uma "crise financeira" para uma "crise de crescimento" e empurrando ladeira abaixo também o comércio internacional, indicou ontem Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Lamy informou que a OMC vai revisar para baixo as perspectivas para o comércio mundial em 2011, em relatório no final do mês.
O Valor apurou que o "World Trade Monitor" do Centro de Analise Econômica da Holanda (CBP), que será publicado amanhã, baixará a projeção de expansão das trocas globais de 8% para 6,5%. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que previa 8,2% de alta, também vai rever sua cifra.
Quanto à OMC, sua estimativa atualmente é 6,5%, comparada a 14% em 2010, mas deve revisá-la para baixo agora. A entidade normalmente utiliza a projeção mais prudente possivel, ainda mais agora em tempos de fortes incertezas.
A evidência, para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é que a desaceleração nas exportações e importações começou a ser sentida no segundo trimestre, com a tragédia do tsunami no Japão, que teve impacto maior do que se previa na cadeia global de suprimento de produtos.
A situação piorou com o crescimento econômico também menor do que esperado nos países desenvolvidos. A expectativa é de que a expansão será ainda mais baixa no segundo semestre.
O Brasil é um dos poucos países que vem se saindo melhor do que previsto. Segundo Alessandro Teixeira, secretário-executivo do MDIC, as exportações estão batendo recorde de alta por volta de 29% (em valor) e as importações estão acima de 31%. "E não é só por causa dos preços de commodities, porque os preços de manufaturados aumentaram mais de 19%", diz.
Técnicos da OCDE evitam falar ainda de contração no comércio global, mas notam que a desaceleração é clara. As encomendas diminuíram tanto nos desenvolvidos como nos emergentes. Na China, com peso de 10% do comércio mundial em volume, a queda de encomendas tem sido importante.
Além disso, as cargas internacionais aéreas não estão mais aumentando. E o transporte por navio, que ajuda a estimar a demanda de manufaturados, tem seus preços em queda desde julho, ilustrando igualmente a desaceleração nas trocas globais.
Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), constata que "estamos num período de novo estresse com agravamento das condições financeiras e desaceleração econômica". Ele destaca o tamanho da crise da dívida pública, que atingiu € 7,8 trilhões na zona do euro (85,4% do PIB) e US$ 14,5 trilhões nos EUA (mais de 100% do PIB). "Desemprego alto e persistente continuará a frear o crescimento da demanda", diz.
Para Lamy, da OMC, os crescentes problemas da dívida soberana, a falta de confiança nos mercados financeiro e a incapacidade de os governos reagirem de maneira coordenada para resolver problemas estruturais levam a crescimento fraco, desemprego elevado e déficit fiscais insustentáveis.
"A realidade é que estamos nos movendo de uma crise financeira para uma crise de crescimento", afirma. "A maioria das grandes economias não está crescendo em ritmo suficiente para alcançar a consolidação fiscal necessária após as medidas extraordinárias tomadas na crise financeira. A economia global continua a enfrentar numerosos riscos e incertezas que continuam a frear a expansão da produção e do emprego. E tudo isso deve levar a revisão de nossas projeções para o comércio."
Cifras da produção industrial em julho da zona do euro, divulgadas ontem, sugerem que no curto prazo as perspectivas de crescimento não são tão ruins como as pesquisas com empresários tem indicado. Mas analistas notam que, enquanto o crescimento na produção foi de 1% e parece encorajador, a verdade é que é menor do que o esperado, 1,5%. "Não há nada para mudar nossa opinião de que a economia pode cair em breve em outra recessão", diz Ben May, analista em Londres.
A OCDE constata a persistência de desequilíbrios O excedente comercial chinês aumentou recentemente sob o efeito de uma taxa de câmbio efetiva estável. Os países exportadores de petróleo tiveram novo aumento de seus excedentes nas contas externas, graças ao preço alto do petróleo.
Fonte:Valor Econômico/Por Assis Moreira | De Genebra
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