Os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita concordaram com as linhas gerais dos termos que destravariam um acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados para elevar a produção, disseram quatro delegados e assessores do grupo ontem, embora ressaltando que as discussões continuam e há detalhes por finalizar.
A Arábia Saudita concordou, em princípio, rever o “nível-base” de produção previsto para os Emirados Árabes Unidos (EAU), segundo fontes, depois de o país ter efetivamente impedido um acordo da aliança Opep+, que inclui a Rússia, na semana passada, porque os termos não se alinhavam a suas próprias metas de produção.
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As fontes disseram que o acordo parece estar próximo, mas que os detalhes finais sobre o nível-base exato - usado para calcular a meta de produção de cada país membro - ainda estavam em discussão.
Qualquer acordo entre a Arábia Saudita e os EAU ainda precisaria ser assinado pelos outros membros da aliança Opep+, em reunião a ser marcada. O ministro da Energia dos EAU confirmou que as “deliberações e consultas entre as partes interessadas continuam”.
A Opep pretendia elevar a produção em 400 mil barris diários a cada mês até o fim do ano, a partir de agora. Esse cronograma provavelmente será revisto se o acordo se concretizar e os outros países apoiarem o aumento do nível-base dos EAU.
Nos últimos anos, os EAU elevaram sua capacidade de produção, que passou de cerca de 3,5 milhões para 4 milhões de barris diários entre 2018 e hoje, de forma que o país se considera no direito de um nível-base mais alto, o que também elevaria sua meta de produção. Em 2030, o país deverá ter uma capacidade próxima aos 5 milhões de barris por dia.
Os encontros da Opep neste mês chegaram a um impasse em função da disputa entre os dois países, o que alimentou a volatilidade nos mercados de petróleo, diante do temor de que a briga impeça um aumento na oferta e corroa a cooperação no cartel.
O grupo, que reduziu a produção em quase 10 milhões de barris diários em 2020, vem elevando lentamente a oferta, à medida que a demanda se recupera. Muitos analistas e operadores no mercado de petróleo, contudo, consideram o ritmo lento demais para impedir uma escassez na oferta.
Na terça-feira, a Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu que se a Opep não agir rápido para elevar a oferta, a alta dos preços do petróleo poderia começar a atrapalhar recuperação da economia na esteira da pandemia. Na semana passada, os preços do petróleo chegaram a mais de US$ 77 por barril, maior patamar desde 2018.
A confirmação formal de um acordo entre os dois países poderia ter que aguardar mais uma reunião da Opep, disseram as fontes, acrescentando que as relações entre os dois outrora aliados no Golfo Pérsico continuam abaladas.
“Eles [a Arábia Saudita] não podem confirmar oficialmente”, disse um assessor de países do Golfo Pérsico, a par das negociações. “Acho que não querem dar aos EAU tanto estímulo.” A “Reuters” noticiou ontem que o acordo já foi alcançado e que os EAU teriam como novo nível-base uma produção de 3,65 milhões de barris por dia.
Dois dos quatro delegados e assessores disseram ao “Financial Times” que preveem um patamar menor no acordo final, possivelmente em torno a 3,5 milhões de barris diários. A fonte que trabalha como assessor de países do Golfo Pérsico disse que o patamar valeria a partir de abril de 2022.
A Arábia Saudita quer estender o acordo da Opep+ até o fim de 2022 pelo menos, acreditando que o mercado de petróleo precisa de mais claridade e certezas diante da crise da covid-19 e do surgimento de variantes do coronavírus.
Fonte: Valor