As ações do Banco do Brasil podem sofrer uma pressão adicional nos próximos meses com a potencial venda de até 3% do capital que deixou de fazer parte do bloco de controle do banco público, o equivalente a quase R$ 1,2 bilhão. A participação que pode ir a mercado pertencia ao Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN), que dá aval a parte dos empréstimos concedidos à Sete Brasil, fornecedora de sondas da Petrobras que enfrenta dificuldades financeiras.
Com o calote da empresa, que deixou de honrar os compromissos no ano passado, os credores acionaram o fundo, que vai usar as ações do BB para arcar com parte das garantias prestadas. Metade da participação já foi destinada ao FI-FGTS, o fundo de investimentos em participações em infraestrutura do fundo de garantia, que havia aplicado em debêntures da Sete. A outra metade das ações será transferida aos demais credores - que incluem bancos como Itaú BBA, Bradesco, Santander e o próprio BB - até maio.
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Questionada se e quando o FI-FGTS pretende vender as ações recebidas em garantia, a Caixa Econômica Federal, gestora do fundo, informou que avaliará o "momento mais adequado para realizar qualquer evento de liquidez desses ativos". A expectativa de uma fonte a par do assunto, porém, é que o fundo não se desfaça dessa posição no médio prazo, mitigando uma possível pressão.
Se vendesse os papéis do BB hoje, o fundo formado com recursos dos trabalhadores recuperaria aproximadamente R$ 580 milhões, pouco mais de 20% do saldo da dívida que tem com a Sete.
O FI-FGTS será o credor que vai receber a maior parte das ações do BB. O restante do volume será pulverizado entre os demais, outro fator que tende a reduzir um possível efeito que a negociação desses papéis possa ter sobre as ações, segundo um interlocutor que acompanha o assunto. Além das ações do BB, os demais credores também receberão pagamentos em dinheiro e em títulos públicos, outros ativos do FGCN.
A transferência das ações que pertencem ao fundo da construção naval precisou ser informada pelo BB à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já que os papéis integravam o bloco de controle do banco. Após a venda, a participação da União no banco cairá de 57,7% para 54,7%.
O governo federal controla o BB por meio de uma participação direta de 50,7% do Tesouro e de outros 3,9% por meio do fundo soberano e do fundo garantidor para investimentos. Uma parte das ações do fundo soberano no banco foi vendida no ano passado pelo governo para reforçar as suas contas, o que provocou queda na cotação dos papéis do banco. A venda de 5.625.400 ações ordinárias do BB rendeu cerca de R$ 134 milhões ao governo.
As ações do BB estão sendo negociadas hoje em patamares historicamente baixos. O banco público encerrou o pregão de ontem da bolsa com valor de mercado de R$ 39 bilhões, o equivalente a menos da metade do valor patrimonial da instituição. Para efeito de comparação, o BB vale atualmente menos na bolsa que a credenciadora de cartões Cielo, empresa que controla ao lado do Bradesco e cujo valor de mercado era de R$ 60,5 bilhões. Até mesmo o BB Seguridade, holding que concentra as participações no setor de seguros do banco, vale mais que seu controlador na bolsa, com um valor de mercado de R$ 50,5 bilhões.
Procurado, o Banco do Brasil afirmou que está em período de silêncio. O banco divulgará seus resultados na quinta-feira.
Fonte:Valor Econômico\Vinícius Pinheiro e Felipe Marques | De São Paulo