Com ajuda de novos mercados, o Brasil recuperou, em 2011, um bom ritmo na exportação de serviços e conseguiu reduzir, proporcionalmente, o déficit esperado para este pedaço da balança de transações do país com o exterior. Depois de ficar muito atrás das importações de serviços em 2008, 2009 e 2010, as vendas no segmento cresceram 24,3% este ano, mesmo percentual registrado na compra de projetos de engenharia, software, aluguel de equipamentos e viagens de brasileiros ao exterior, entre outros componentes da conta de compra de serviços, segundo dados do Banco Central.
Apesar de continuarem como o principal destino, os Estados Unidos diminuíram sua fatia de participação na compra de serviços brasileiros. Em 2008, os americanos consumiam 50,8% dos serviços brasileiros exportados. Em 2010, a fatia recuou para 42,1%. O ganho foi dos países da América Latina (incluindo Mercosul), que avançaram de 3,3% para 6,6% no período. Os cálculos são do Ministério do Desenvolvimento, que detalha dados da balança de serviços a partir de informações compiladas pelo BC.
A ampliação da fatia dos latino-americanos no consumo de serviços brasileiros é uma tendência que deve ter continuidade em 2011 e nos próximos anos, diz Maurício Lacerda do Val, diretor do Secretaria de Comércio e Serviços, do Ministério do Desenvolvimento.
As empresas de serviços têm procurado ganhar competitividade, o que inclui investimento em processos que permitam ganho de escala, explica Lacerda do Val. Para ele, o caminho natural é iniciar a internacionalização pelos países da América Latina. As atividades que mais impulsionam as vendas aos países vizinhos são serviços de engenharia, de arquitetura e consultoria empresarial, em áreas como tecnologia da informação e gestão. Despontam também as franquias de serviços, como cursos de línguas.
Para Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a exportação de serviços segue a evolução das vendas brasileiras de bens. "A menor representatividade dos Estados Unidos se deve ao menor crescimento da economia americana." Nesse cenário, lembra, há um crescimento maior dos países da América Latina, o que acaba demandando um volume maior, não só de bens como de serviços. "Há ainda um grande potencial de crescimento de exportação de serviços para o continente africano e a América Latina", diz Lacerda do Val.
Por enquanto, as vendas aos latino-americanos ajudam a proporcionar um aumento das exportações de serviços em ritmo muito próximo ao das importações em 2011. Para o diretor de Comércio e Serviços, isso interrompe o que vinha acontecendo nos últimos anos.
Desde 2007, a taxa de crescimento da importação de serviços passou a ser muito maior do que a da exportação. A única exceção foi 2009, quando a crise provocou queda na compra e também na venda de serviços no mercado internacional. Mesmo assim, a importação sofreu menos, com redução de 0,42% em relação a 2008. A queda na exportação no mesmo período foi de 8,9%.
Em 2010, porém, a importação se recuperou, com alta de 33,5%, enquanto a venda de serviços aumentou apenas 14,8%. O resultado foi um déficit de US$ 30,8 bilhões. Para este ano, estimava-se inicialmente déficit de US$ 45 bilhões. O crescimento da exportação a taxas praticamente iguais às da importação, deve fazer com que o saldo negativo não ultrapasse US$ 40 bilhões.
A estimativa do diretor leva em consideração os critérios usados pelo Ministério do Desenvolvimento, que seguem os aplicados pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Por essa contabilização, são consideradas a compra e venda de serviços no mercado internacional mas, diferentemente das contas do BC, não são incluídos gastos e receitas governamentais.
Lacerda do Val chama a atenção para o papel das micro e pequenas empresas na exportação de serviços. Em 2010, elas representaram 76,1% do total dos exportadores de serviços, sendo responsáveis por 10,6% das receitas. No embarque de bens, diz o diretor de Comércio e Serviços, as micro e pequenas empresas têm participação de apenas 1% nas receitas.
"Isso faz com que as pequenas exportadoras brasileiras de serviços obtenham US$ 3 bilhões em receitas. Em bens [mercadoria física], empresas desse porte são responsáveis por US$ 2 bilhões em vendas", diz. "O setor de serviços é uma via de entrada da micro e pequena empresa no mercado internacional."
A venda de serviços ao exterior produz um efeito descentralizador na economia, explica Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria Barral M Jorge. Quando um país compra máquinas pesadas ou bens duráveis, necessita, depois, da manutenção dessas peças, realizada por micro e pequenas empresas. "Em serviços há, naturalmente, trabalhos especializados de consultoria e assistência técnica. A grande empresa exporta maquinário e as menores atuam na cadeia, fornecendo a manutenção", afirmou.
Barral lembra, porém, que, apesar da pequena melhora em 2011, o setor de serviços puxa a balança total de pagamentos para baixo. Enquanto na balança comercial de bens o Brasil registrou superávit de US$ 25,3 bilhões no acumulado do ano até outubro, o resultado da exportação e importação de serviços foi um déficit de US$ 31,2 bilhões no mesmo período.
"Poderíamos vender muito mais serviços lá fora", afirma Barral. O consultor cita tecnologia da informação, bancos e bens de consumo duráveis como áreas em que o Brasil poderia crescer. "Temos empresas competitivas. Se vendemos produtos, podemos levar os serviços relacionados a eles. Nosso sistema de automação bancária, por exemplo, é um dos mais avançados do mundo, mas pouco exportado. Às vezes falta interesse em sair do país."
Fonte: Valor Econômico/ Marta Watanabe e Rodrigo Pedroso | De São Paulo
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