SÃO PAULO - Apesar das inúmeras ações do governo para fomentar o etanol brasileiro no exterior, a União da Industria de Cana-de-açúcar (Unica) prevê que somente a partir de 2015 o Brasil terá excedente suficiente do combustível para exportar. Para a entidade, os interesses do País não devem se limitar apenas à venda do produto, mas à transferência de tecnologia para fabricação de álcool.
A produção de cana-de-açúcar, estimada para 2015, é de aproximadamente 829 milhões de toneladas, contra os 600 milhões deste ano. Já a fabricação de etanol esperada para daqui a cinco anos é de 46 bilhões de litros, contra os 26 bilhões aguardados neste ano, segundo a Unica. Com isso, espera-se um excedente superior a 12 bilhões de litros, que pode favorecer a exportação de volumes maiores do combustível. "Hoje não temos excedente para exportar. A nossa previsão para este ano é de uma reserva menor que o consumo mensal, ou melhor, teremos um excedente de 1,4 bilhão de litros e um consumo interno mensal de 2 bilhões. Em 2015 as possibilidades são maiores, até porque teremos um excedente maior", garantiu Sérgio Prado, representante da Unica em Ribeirão Preto (SP).
Para ele, o açúcar é o produto da cana que o setor sucroalcooleiro tem que focar as atenções nas exportações atualmente. "Temos que parar de sonhar em exportação de etanol por enquanto. O produto de exportação do setor é o açúcar. Não podemos nos enganar com esta hipótese de ter excedente significativo para exportação nos próximos anos, não há excedente de etanol para tanto", frisou Prado.
O secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, João de Almeida Sampaio, concorda com a previsão da entidade e prevê para 2011 uma área de plantio menor, por conta dos períodos de estiagem vividos no segundo semestre deste ano. Para ele a produção menor irá puxar os preços do etanol para cima e manter os estoques do produto em baixa. "O setor sucroalcooleiro passou por períodos difíceis e se viu obrigado a investir menos, acarretando um aumento pouco significativo na área de plantio. A seca deste ano complicou ainda mais a produção. Tão logo, não vejo nenhuma possibilidade do Brasil pensar em exportar etanol antes de 2015. Não teremos excedente para isso até lá", garantiu.
O representante da Unica confirmou que as empreitadas brasileiras para divulgar o etanol produzido no País não servem exclusivamente para abrir mercado para o produto final, mas também para oferecer a tecnologia industrial desenvolvida aqui. "Estas missões brasileiras em outros paises para fomentar o uso do nosso etanol servem não somente para a exportação física do produto, mas também para transferir tecnologia para fabricação. Temos condições, aqui no Brasil, de montar usina em qualquer país que plante cana", contou Prado.
Atualmente, mais de 100 países no mundo cultivam a cana para a produção do açúcar, com grandes possibilidades de também produzir o etanol, garantiu Prado. A questão defendida pela entidade é transformar o produto em uma realidade de consumo e produção também em outros países. "Mais de cem países plantam cana e ao invés de somente produzir açúcar eles podem fazer o etanol também. E aqueles que não plantam cana, mas têm clima e solo para isso, podem começar a produzir", disse.
Por fim, ele afirmou que o Brasil tem experiência e competência suficientes para exportar ou vender equipamentos para a montagem de fábricas semelhantes ou mais modernas que encontradas no país. "Podemos montar fábricas iguais ou melhores que as nossas aqui do Brasil. Temos competência para isso. Não queremos só vender etanol, queremos vender tecnologia", comemorou Prado.
A previsão da entidade para 2020 é de superar a marca de 1 bilhão de toneladas na produção de cana-de-açúcar em uma área de cultivo de aproximadamente 13,9 milhões de hectares. O etanol deve atingir uma produção de 65,3 bilhões de litros, com um consumo interno de quase 50 bilhões de litros por ano, contra os 24 esperados para este ano.
Já o açúcar deve chegar em 2020 com uma produção de 45 milhões de toneladas e um excedente de 32,9 milhões, contra os 41,3 milhões de toneladas esperados em 2015 com excedente de 30 milhões de toneladas.
Prado ainda comentou que a expectativa para os próximos anos é de retomada de investimentos em novas usinas, ele não soube mencionar qual a expectativa para 2011, entretanto garantiu que além das plantas que estavam em projeto e pararam por conta da crise econômica global, aproximadamente mais cinco novos projetos devem se juntar a esse montante. "Agora vamos trabalhar com a retomada de investimentos para novas usinas."
Apesar das inúmeras ações do governo, a Unica prevê que somente a partir de 2015 -quando a produção chegar a 46 bilhões de litros, e o excedente, a 12 bilhões- o Brasil terá condições de exportar etanol.
Fonte: DCI/Daniel Popov
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