O capixaba Paulo Basílio assume a presidência da América Latina Logística (ALL) amanhã, dez anos depois de ser contratado como analista financeiro, com a missão de enfrentar dois desafios. Além de crescer organicamente, com a captação de mais cargas para as ferrovias que administra, ele tem como missão explorar oportunidades que existem em torno da malha da companhia e com as quais prevê saltos nas receitas. "Em volta da ALL há mais uma ALL", diz o economista de 35 anos, citando o exemplo de que, para cada dólar gasto com transporte nos Estados Unidos, outros dois dólares são usados com serviços ligados ao segmento.
Mesmo que a proporção não seja a mesma no Brasil, o executivo afirma que há um mercado novo a ser explorado e ele estará na mira da nova gestão. "Na ALL somos focados no primeiro dólar, mas dá para crescer muito mais em serviços atrelados ao transporte." Basílio planeja estruturar até o fim do ano um modelo de operação para reforçar a atuação da empresa no transporte de varejo, com contêineres, que deve acontecer por meio de acordos com parceiros que possam consolidar as cargas. Ele diz que hoje a ALL tem 1,5% do mercado de contêineres nas regiões em que atua, enquanto tem 50% do mercado agrícola e 20% do industrial. Ele cita ainda armazenagem, estufagem e a expansão de serviços em terminais como exemplos do que vêm pela frente. Também está olhando soluções de transporte para minério de ferro que está sendo explorado no Mato Grosso do Sul.
Basílio tinha 24 anos e uma experiência de dois anos em consultoria quando foi recrutado por Bernardo Hees, que o antecedeu no cargo e agora vai assumir nova função na Burger King, adquirida por investidores brasileiros. Depois passou pelas diretorias de industrializados, planejamento operacional e financeiro antes de se tornar superintendente, em dezembro. Como o processo de transição estava em andamento desde o começo do ano, ele sente-se à vontade para deixar de lado o discurso de continuidade do trabalho que vinha sendo feito, não sem antes explicar a razão: "a forma de conduzir o negócio é a mesma, a companhia é que está em um momento diferente".
A trajetória dos dois presidentes anteriores são usadas como explicação. A Alexandre Behring, que ocupou a posição de 1998 a 2004, coube recuperar o orgulho, formar equipe e apresentar resultados em um empresa que havia acabado de ser privatizada. No período, entrou na Argentina (1999) e comprou a empresa de logística Delara (2001). Hees, que ficou de 2005 a 2010, avançou na gestão do negócio e fez a maior aquisição da ALL, a Brasil Ferrovias, em 2006. Ele liderou a equipe em um processo de corte de custos e busca de resultados na nova empresa, sem desviar os olhos da operação que já existia.
Basilio trabalhou junto com Hees para apresentar a ALL a investidores durante o lançamento de ações, em 2004, e passou um ano em Campinas (SP), em 2006, para arrumar a casa na Brasil Ferrovias. Questionado se, pelo histórico anterior, ele terá de cinco a seis anos no comando da ALL antes de ir para o conselho e, como seus antecessores, assumir nova função em outro país, ele desconversa. Mas diz que "é natural ter ciclos de renovação" porque a empresa tem muita gente nova na equipe. Afirma não acreditar em plano de carreira. "Quem eu vi crescer mais, foi quem menos se preocupou com isso."
Nos últimos meses, Hees e Basílio passaram a assinar textos em conjunto e os diretores já respondiam ao sucessor, mas não se falava em data para a troca oficial de comando. Os dois também fizeram visitas a clientes, investidores e a órgãos da imprensa. Na semana passada, foi realizada o que a empresa chama de "reunião do desejo", quando são discutidas ideias para o exercício seguinte. Hees fez a abertura e pode-se dizer que, naquele dia, passou o bastão, porque na mesma semana foi anunciada a a aquisição da Burger King.
A integração da ex-Brasil Ferrovias durou três anos. "Entramos em 2010 com a companhia redonda e, na minha cabeça, os novos desafios são claros", diz. Segundo ele, a atual estrutura de capital da companhia permite a exploração de novos negócios. "A ALL pode dar um salto maior para virar uma plataforma de logística mais completa." Reforçar a intermodalidade não é um plano novo, explica ele, mas ficou de certa forma congelado porque havia outras prioridades em andamento. "Em toda conexão há uma quantidade enorme de caminhão e de serviço que a ALL poderia estar oferecendo para o encontro da intermodalidade", diz. "Há oportunidades de valor fora da ferrovia pura." Basílio também não descarta aquisições e diz que investimentos serão feitos para permitir crescimento orgânico de volume acima de 10% na plataforma ferroviária - os investimentos previstos são de R$ 700 milhões por ano, sendo que em 2010 o volume somará R$ 1 bilhão por causa de extensão da malha ligando Alto Araguaia a Rondonópolis (MT). Para projetos estratégicos - contêineres, terminais, armazenagem e outros - diz que haverá investimentos específicos para cada caso.
Fonte: Valor Econômico/Marli Lima | De Curitiba
PUBLICIDADE