Da tranquilidade da lavoura até chegar à porta das cerealistas ou indústrias para ser esmagada, a soja registrou perdas superiores a R$ 130 milhões, na última safra, por conta da má regulagem nas colheitadeiras e o transporte em rodovias precárias de Mato Grosso do Sul.
Cálculos de pesquisadores da Embrapa Soja, de Londrina, apontam que que apenas na falta de manutenção correta das colhedoras, os agricultores perderam cerca de 3,4 milhões de sacas de soja. A área plantada no ciclo 2009/2010 foi de 1,7 milhão de hectares no Estado. Ou seja apenas dentro da fazenda, considerando o custo atual do grão, de R$ 38, a quebra ficou em torno de R$ 129,2 milhões que deixaram de entrar no bolso dos produtores. À época da colheita da safra deste ano, com a soja a R$ 28,50, o prejuízo também seria grande, aproximadamente R$ 97 milhões.
Se somarmos as quebras que o produtor teve no transporte da soja pelas rodovias estaduais, a perda em grãos é de 6,5 mil toneladas, o que equivale a um rombo de R$ 4,1 milhões. O saldo negativo foi absorvido pelos produtores e as transportadoras, já que o Governo cobra o ICMS antecipado e acaba não computando este prejuízo.
Pouca estrutura
A falta de uma estrutura adequada para escoamento da produção, aliada à logística de transporte precária provoca desperdícios de grãos pelas estradas brasileiras. Em Mato Grosso do Sul a situação não é diferente. A perda ainda é elevada. Da lavoura até o destino final, a quantidade de soja que fica pelo caminho se situa em torno de 0,25% de tudo o que é transportado.
Durante a colheita, a cena mais comum é de grãos caindo de caminhões e se acomodando à beira das rodovias. Para se ter uma idéia, das 5,3 milhões de toneladas de soja que Mato Grosso do Sul retirou dos campos nesta safra, a estimativa é de que pelo menos 6,5 mil tenham ficado pelo caminho, às margens das rodovias. Segundo cálculos do corretor de grãos Carlos D´Avalos, da Granos, os desperdícios significam prejuízo de R$ 4,1 milhões a cada ano para o setor.
"As contas são superficiais, porque na verdade este índice pode ser até maior em MS", enfatiza o corretor.
Ele destaca que o problema é antigo e não há informações de que algo esteja sendo feito para solucioná-lo. "Os números das perdas são expressivos e, se formos pontuar o maior culpado para esses prejuízos, com certeza o grande vilão seriam as péssimas condições das nossas estradas, provocando a trepidação dos caminhões e o vazamento de grãos pelas carrocerias".
Não há perdas
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado de MS, Horst Ott Scheley, hoje não existem mais perdas de grãos expressivas nas rodovias. Segundo ele com o avanço da tecnologia nos caminhões bitrem este número é praticamente zero. "Antigamente os caminhões vazavam. Mas agora com carrocerias melhores", afirma.
Otto Schley explica ainda que a exigência dos compradores dos grãos, na maioria multinacionais, não permite perdas. "Como eles dividem a responsabilidade sobre a carga não admitem que se carregue com excesso", frisa.
Com relação às estradas ele destaca que estão "sempre melhorando". E não tem reclamações para fazer sobre a estrutura de escoamento. "Já foi pior. O Brasil tem estas fases mesmo", conclui. (matéria na versão impressa de hoje do Correio do Estado)
Fonte: Correio do Estado/Rosana Siqueira
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