A Petrobras pretende vender toda a sua participação remanescente na BR Distribuidora ainda este ano, em uma operação que pode render mais de R$ 8 bilhões, disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto.
O desinvestimento na distribuidora, com potencial de ser um dos maiores do ano, e a política de preços que segue paridade —mas evita repassar volatilidade do mercado de petróleo aos preços internos— estão entre os temas que recebem atenção do presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, que completou nesta semana um mês à frente da petroleira.
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Na Petrobras, as discussões em andamento apontam para posição favorável a uma venda integral da fatia de 37,5% na maior distribuidora de combustíveis do Brasil, o que confirma que o novo presidente-executivo está alinhado com desinvestimentos, segundo as fontes, que falaram na condição de anonimato.
A BR também já tomou conhecimento do interesse da Petrobras, e houve contatos entre Luna e o presidente da distribuidora Wilson Ferreira Jr.
"A intenção é fazer ainda este ano dentro dos ritos necessários. O assunto está em plena discussão. Mas a ideia é vender tudo", disse uma das fontes.
Logo da Petrobras na sede da companhia no Rio de Janeiro - Sergio Moraes - 30.abr.21/Reuters
"A Petrobras quer vender tudo e foram encomendados os estudos numéricos com cenários para ser tomada a melhor decisão", adicionou uma segunda fonte.
Uma reunião para tratar do assunto deve acontecer ao longo das próximas semanas, disseram as pessoas a par do tema.
Procurada, a Petrobras não comentou imediatamente. A BR disse que o assunto deve ser tratado com a Petrobras.
Luna e Ferreira já atuaram juntos em Itaipu, quando o presidente da BR estava no conselho da usina binacional enquanto o presidente-executivo da Petrobras era o chefe executivo da hidrelétrica.
Análises técnicas em andamento vão embasar junto ao conselho a venda da participação na BR, segundo as fontes, que disseram que estimativas iniciais apontam que a Petrobras poderia faturar ao menos cerca de R$ 8 bilhões com a venda total dos papéis na BR.
"É uma operação vultuosa, podendo chegar a 8 bilhões, e com isso pode cair bem a dívida da companhia", disse a segunda fonte.
Questionadas sobre quando a negociação poderia ser concluída, ambas disseram que a intenção é que ela seja finalizada este ano, mas é preciso aguardar o melhor momento para fazer o melhor negócio.
Esta seria a terceira grande venda de ações da BR Distribuidora pela Petrobras.
"A venda (plena) consolida a BR como 'corporation'; ela sem acionista de referência e sem acionista com mais de 4%", afirmou uma terceira fonte.
Essa pessoa também confirmou que as discussões sobre a venda do ativo estão avançando.
"Já houve contato e, se eles quiserem vender, a operação é muito rápida: máximo 40 dias", destacou a fonte.
"A BR é um grande negócio e hoje vale (essa fatia da Petrobras) mais de R$ 10 bilhões", afirmou a terceira fonte.
Segundo esta pessoa, faz "todo sentido" vender porque a ação já passou de R$ 25, ante máxima histórica de quase R$ 28, em fevereiro de 2020.
"A dívida da Petrobras é em dólares, e o dólar está caindo. Então se ele quer quitar mais dólares, melhor vender agora que a BR atingiu um de seus maiores valores em reais, e ele tem a oportunidade de vender e converter para um valor maior em dólares porque o câmbio caiu", complementou.
A dívida líquida da companhia somou US$ 58,4 bilhões (R$ 309,6 bilhões) no fim de março, ante US$ 63,2 bilhões (R$ 335 bilhões) um ano antes.
Ao final do ano passado, ao divulgar novas informações sobre desinvestimentos, a meta de vendas de ativos da Petrobras aumentou para até US$ 35 bilhões (R$ bilhões), até 2025, com a inclusão da BR e da petroquímica Braskem no programa.
PREÇOS
De forma discreta, a Petrobras já iniciou uma nova estratégia para o ajuste nos preços dos combustíveis, confirmaram as fontes.
No primeiro mês à frente da estatal, o novo presidente indicado por Jair Bolsonaro promoveu apenas uma mudança nos preços dos combustíveis.
No começo de maio, a empresa anunciou uma redução de R$ 0,06 no preço do diesel nas refinarias e de R$ 0,05 no litro da gasolina.
A política de paridade de preços internacionais, que leva em consideração as variações do dólar e o barril de petróleo no mercado internacional, não foi abandonada, de acordo com as fontes.
Mas a orientação é evitar o frequente sobe e desce de preços. Tal volatilidade é considerada prejudicial para a imagem da empresa.
"A paridade não está sendo deixada de lado, mas a orientação dada às áreas técnicas é que tentem diferenciar o que é um movimento conjuntural e passageiro do que é estrutural", disse a primeira fonte.
"Para mexer no preço tem que haver uma justificativa estrutural", complementou.
"Se for uma subida de verdade que veio para ficar, a Petrobras ajusta o preço. Mas se foi algo que vai e vem, não faz. As equipes olham os movimentos todos os dias, mas não vai ficar no sobe e desce... Talvez seja uma forma mais flexível de aplicar a paridade, ou melhor, uma forma menos imediata de aplicar", concordou a segunda fonte.
O presidente Bolsonaro anunciou a troca do comando da Petrobras, com o fim do mandato do economista Roberto Castello Branco, devido a descontentamentos com a política de preços da estatal na administração anterior.
Em meados de maio, o diretor-executivo de Comercialização e Logística, Cláudio Mastella, disse que a nova gestão da Petrobras manteve a maneira de gerenciar ajustes de preços do combustíveis e busca praticar valores em níveis competitivos, evitando repassar volatilidade internacional ao mercado interno.
Fonte: Folha SP