Pressionada pelo governo, a Petrobras pode pagar caro para entrar no bloco de controle da portuguesa Galp, em um momento em que tenta recuperar a credibilidade no mercado, abalada após conflito com acionistas minoritários na megaoferta de ações ocorrida há três meses.
Acordo entre o ex-presidente Lula e o primeiro-ministro português, José Sócrates, no final do ano, selou a entrada da estatal no comando da Galp, resolvendo conflito entre interesses italianos e angolanos no petróleo.
Reafirmado pela presidente Dilma Rousseff, o acordo prevê a compra de 33,34% da petroleira portuguesa que está nas mãos da italiana Eni.
Apesar de portuguesa, a Galp é controlada pelos italianos e pela Amorim Energia (que tem 33,34% e representa os angolanos da Sonangol).
Inicialmente, a Eni queria adquirir sozinha o controle da Galp, mas havia resistência dos angolanos, que querem fatia maior da empresa.
Com o fim de um acordo de acionistas, a Eni decidiu sair.
Apesar dos interesses políticos, a Petrobras tem interesse na Galp para destravar os investimentos nos campos de Lula (antigo Tupi) e Cernambi, explorados em parceria com a portuguesa.
Devido à crise, os portugueses ameaçam conter os investimentos no pré-sal.
IMPASSE
Na semana passada, houve rumores de que a Petrobras fechou com os italianos, mas as negociações emperraram em torno do preço.
Sabendo da importância da Galp para os brasileiros, os italianos tentaram impor 4,7 bilhões (R$ 10,29 bilhões) pelos 33,34%. Naquele momento, a Petrobras aceitava chegar a 3,5 bilhões (R$ 7,66 bilhões) -equivalente a 25% da Galp.
Os italianos recuaram e o preço teria chegado a 4 bilhões (R$ 8,7 bilhões), sendo 500 milhões com a transferência de ativos da Petrobras.
Mesmo assim a Petrobras não fechou o negócio por temer repercussão negativa.
Com investimentos de US$ 224 bilhões até 2014, a Petrobras não conseguirá gerar caixa suficiente para fazer frente aos dispêndios.
No ano passado, a estatal se engajou na maior oferta de ações já feita no mundo para levantar R$ 120 bilhões.
Os minoritários reclamaram que não tiveram voz no processo e que a União impôs um preço altíssimo pelo petróleo cedido à Petrobras.
Até hoje, as ações não recuperaram o patamar anterior ao anúncio da oferta de ações -desde o início de 2010, os papéis PN (sem voto) recuaram 23,3%.
Contudo, a transação permitiu à empresa reduzir o endividamento de 34% para 16% do patrimônio. A dívida só pode chegar até 35%.
Para seguir investindo no pré-sal, a Petrobras terá de captar mais recursos por meio de emissão de dívida.
Não está descartada uma nova rodada de venda de ações a partir de 2013.
Por conta da "saia justa" com o mercado, as negociações pela Galp devem demorar mais do que o previsto.
Analistas afirmam que a estatal poderia elevar seu endividamento para chegar ao preço pedido pelos italianos. Mas, segundo a Folha apurou, a Petrobras não quer assumir o risco de pagar caro por ter cedido a pressões do governo.
Fonte: Folha de São Paulo/JULIO WIZIACK/TONI SCIARRETTA/DE SÃO PAULO
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