A reprogramação da Petrobras que a nova presidente, Graça Foster, está fazendo não para. Ontem a executiva anunciou o Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), que será lançado em setembro. Com o programa, a companhia quer identificar custos operacionais permanentes, que tenham impacto relevante e que possam ser otimizados. Um deles é o da energia elétrica. O objetivo do programa não é cortar custos. Segundo Graça, atualmente os gastos gerenciais respondem por 30% do desembolso anual da Petrobras.
"Os gastos gerenciáveis foram de US$ 32 bilhões em 2011, equivalentes a geração operacional [Ebitda], que foi de US$ 33 bilhões e 33% superiores à captação realizada no período", disse a executiva, referindo-se às captações de US$ 23,9 bilhões realizadas em 2011.
Ao apresentar o Plano de Negócios 2012-2016 para executivos financeiros, Graça Foster voltou a mencionar as metas mais realistas de produção (que resultam em uma produção em 2020 com um volume de 700 mil barris/dia abaixo da meta anterior), e a busca por uma maior disciplina de capital. Sobre as novas refinarias, citou de novo a Rnest, em Pernambuco, orçada em US$ 20,1 bilhões, entre as lições aprendidas pela companhia.
Sobre os preços praticados pela estatal, Graça disse que paridade (que a companhia não está adotando por imposição do acionista controlador, o governo) é um dos pilares do plano de negócios. "O fato é que quem vende quer mercado. E nós temos de investir muito em nossas refinarias", justificou.
Ao mencionar a necessidade das novas unidades, citou a Rnest (PE) e o Comperj (RJ) como importantes para reduzir a dependência do país à importação de derivados para atender ao crescimento do mercado brasileiro.
As projeções da Petrobras indicam que se não forem construídas as refinarias do Maranhão e Ceará, o país terá de importar 35% dos derivados que consome em 2020. "Há de fato uma exposição à volatilidade dos preços internacionais". Isso acontecerá, segundo Graça, se a Petrobras não puder construir as novas refinarias "com todas as métricas internacionais adequadas de preço e de prazo e de tecnologia padronizadas".
Segundo dados apresentados ontem, o Brasil hoje importa 15% dos derivados que consume. No primeiro semestre foram consumidos o equivalente a 870 mil barris/dia de óleo diesel, dos quais 181 mil barris/dia tiveram que ser importados. Na gasolina, o consumo foi de 510 mil barris/dia, que resultaram em importações de 66,3 mil barris/dia.
Depois de dois dias em Brasília, Graça explicou que o presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, foi com quem mais conversou.
A PDVSA é sócia da Rnest com 40% mas ainda não colocou dinheiro. Graça Foster frisou que a Petrobras espera que a PDVSA apresente as garantias financeiras exigidas pelo BNDES para que ela tenha direito ao empréstimo do banco e só depois vai negociar com os venezuelanos, inclusive custos financeiros incorridos.
O dinheiro emprestado pelo BNDES para a obra já acabou e a Petrobras está arcando sozinha com os custos dela e do parceiro. "A Petrobras não quis avançar em discussão de valores e como seria a entrada deles porque não está fechada ainda as garantias e as contra-garantias com os bancos. Achamos que seria colocar a carroça na frente dos bois", disse.
A executiva frisou, em seguida, que enquanto houver "um potencial de [a Rnest] ser um bom negócio", a Petrobras continuará discutindo com a PDVSA.
Sobre as medidas anunciadas pelo governo da Argentina, que aumentam o controle sobre investimentos e até margens de lucro das empresas que operam no país, Graça disse que a Petrobras ainda não teve tempo de "assimilar" a nova legislação, que foi editada nos últimos dias. "A grande vantagem é que agora está escrito", disse. A estatal prevê investir US$ 1,6 bilhão naquele país até 2016.
Graça disse esperar que seja nomeado um novo diretor da area internacional na sexta-feira, na reunião do conselho de administração. Ao elogiar o ocupante interino do cargo, José Carlos Amigo como "um profissional extremamente dedicado", a executiva garantiu que não conhece indicações do PMDB para o cargo. "A discussão toda dos partidos, da política, eu desconheço completamente".
Fonte: Valor Econômico / Cláudia Schüffner e Rodrigo Polito
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