Depois de perder um quarto de suas reservas desde 2014, a Petrobras terá pela frente um cenário desafiador para recuperá-las. A expectativa é que o crescimento esperado da produção e a continuidade dos desinvestimentos pressionem para baixo as reservas da companhia nos próximos anos. Esse quadro exigirá esforços maiores da petroleira na exploração de novas descobertas, se ela quiser manter o equilíbrio de seus recursos.
A Petrobras fechou 2018 com reservas provadas de 11,957 bilhões de barris de óleo equivalente (BOE), pelos critérios da Agência Nacional de Petróleo (ANP)/Sociedade dos Engenheiros de Petróleo (SPE). O volume representa redução de 3,7% ante 2017. Foi o quarto ano seguido de retração.
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Já pelos critérios da Securities and Exchange Commission (SEC), a queda foi 1,5%, para 9,606 bilhões de BOE. A principal diferença entre os critérios das duas entidades é o preço do petróleo considerado no cálculo da viabilidade econômica das reservas.
Na avaliação do geólogo Pedro Zalán, da ZAG Consultoria, contudo, a Petrobras está bem posicionada em relação a sua carteira exploratória. Para ele, a relação reserva/produção da companhia, mantida acima dos 13 anos pelo critério ANP/SPE, nos últimos três anos, é "um bom número".
"A Petrobras tem fôlego [para incorporar novas reservas], porque ela tem áreas de qualidade, de onde ela poderá apropriar reservas no futuro. No curto e médio prazos, tem a descoberta de Sagitário, na Bacia de Santos, que ainda não foi declarada comercial, e as descobertas em águas profundas da Bacia Sergipe-Alagoas. No médio e longo prazo, tem os blocos do pré-sal que ela adquiriu nos leilões recentes. Uirapuru, por exemplo, é uma área de alta qualidade e potencial", afirmou.
Em geral, fatores como o volume produzido ao longo do ano, vendas de ativos e o impacto da desvalorização dos preços do petróleo sobre a viabilidade econômica dos projetos contribuem para corroer o tamanho das reservas. Por outro lado, a declaração de comercialidade de novos campos contrabalança essa equação, ao incorporar novas acumulações de óleo e gás ao portfólio.
A Petrobras já inicia 2019 com perspectivas de recorde na produção de petróleo no país. Até 2023, a previsão é que a produção total de óleo e gás da empresa cresça, em média, 5% ao ano, o que deve pressionar para baixo o cálculo das reservas da companhia nos próximos anos.
Some-se a isso as expectativas de desinvestimentos. Não fossem as vendas de ativos, a petroleira teria mantido suas reservas estáveis, porque compensou praticamente todo o volume produzido com novas incorporações, puxadas por sua vez pela declaração de comercialidade dos campos Nordeste de Sapinhoá, Noroeste de Sapinhoá e Sudoeste de Sapinhoá, no pré-sal da Bacia de Santos.
No ano passado, a petroleira vendeu ativos importantes como o campo de Lapa e fatias de 22,5% em Berbigão, Sururu e Oeste de Atapu (pré-sal de Santos), para a Total, além da participação de 25% do campo de Roncador (Bacia de Campos), para a norueguesa Equinor. Para os próximos anos, a expectativa é que as perdas de reserva decorrentes do programa de desinvestimentos continuem.
A Petrobras negocia atualmente com a chinesa CNPC, por exemplo, a venda de 25% do cluster de Marlim, na Bacia de Campos. Além disso, a estatal brasileira tem negociações abertas para venda de parte de sua participação num pacote de concessões em águas profundas de Sergipe-Alagoas. Esses ativos ainda não tiveram suas declarações de comercialidade apresentadas, mas são um dos principais trunfos para a incorporação de novas reservas da empresa no futuro.
Fonte: Valor