SÃO PAULO - A capitalização de R$ 120,2 bilhões da Petrobras, com a colocação de novas ações, realizada no ano passado, causou um descolamento jamais visto pelo mercado entre as ações preferenciais da estatal e os papéis PNA da Vale. A grande maioria dos investidores não aprovou esta emissão, o que prejudicou seu desempenho anual.
As ações PN da Petrobras apresentam desvalorização de 20,80% em 12 meses. No ano, os papéis entraram na fase de alta, embora ainda moderada (+1,93%). Por outro lado, as ações PNA da Vale encontram-se com elevação de 16,78% em 12 meses, enquanto no ano, as ações já sobem mais 8,01%. No mesmo período, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&F Bovespa) vem registrando altas de 1,42% e 3,07%, respectivamente.
Entretanto, passados todos os entraves da operação, os analistas já voltam a prever alta para a PETR4 (código utilizado para negociar as ações PN da Petrobras). Boa parte das corretoras colocou os papéis da petrolífera em alerta de compra em suas carteiras recomendadas para janeiro.
"Os papéis são muito importantes para o Ibovespa. Sempre caminharam lado a lado, mas ocorreu um descolamento no ano passado. Hoje [ontem] a Vale chegou a seu maior valor histórico, R$ 52,28, enquanto a Petrobras está valendo R$ 27,59", avalia Octávio Focques, analista técnico da TOV Corretora.
O especialista destaca que esta diferença corresponde a uma defasagem de 1.89, ou seja, grosso modo, para cada venda de 1.000 ações PNA da Vale, seria possível comprar 1.894 ações PN da Petrobras. "Isso já é um fator que indica a compra para essas ações, por isso estamos recomendando. Este papel tem um target de R$ 30 para os próximos seis meses", acrescenta Focques.
Em nota divulgada no início desta semana sobre seu nível de endividamento, a Petrobras disse que "avalia seu grau de alavancagem por meio do acompanhamento de dois índices: Dívida Líquida/Capitalização Líquida e Dívida Líquida/EBITDA (lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações)", afirma o documento da estatal.
A petrolífera informou ainda que o primeiro índice - Dívida Líquida/Capitalização Líquida - fechou setembro de 2010 em 16%, bem abaixo do "teto" da meta da companhia, que é 35%. A forte redução ocorrida entre o final de junho de 2010 (índice atingiu 34%) e setembro teve como principal variável a capitalização.
O segundo indicador - Dívida Líquida/Ebitda - mensura a capacidade de a Petrobras pagar sua dívida líquida através da geração de caixa operacional. Ao final de junho de 2010, a dívida líquida era 1,52 vezes maior que o Ebitda. No final do 3º trimestre, esta relação caiu para 0,94 vez, bem inferior ao teto de 2,5 vezes. Ou seja, foi provada pela companhia a capacidade de pagamento.
Ponto adverso
De acordo com outro especialista que preferiu não ser identificado, o descolamento entre as ações da Vale e da Petrobras é natural. "Não espero que os dois papéis andem lado a lado. A Vale tem aumentado sua produção e elevou o preço do minério de ferro", afirma o analista, que diz ainda que pelo fato de a Petrobras ser uma estatal, "tudo anda mais devagar".
O analista explica que o papel tem um grande potencial de alta por conta da alta do preço do petróleo, mas é preciso ficar atento ao valor dos investimentos, que é muito alto. "Com certeza a Petrobras terá de se endividar: temos de analisar se a capitalização vai cobrir todos seus investimentos", finalizou o especialista.
Fonte: DCI/Eduardo Puccioni
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