Commodities: Comportamento do mercado de ações ditará rumo a metais
Os contratos de metais não ferrosos e petróleo seguiram em queda ontem em Londres e Nova York, acompanhando o movimento negativo generalizado no mercado acionário global. E a tendência para as próximas sessões é a de que essas commodities acompanhem de perto o humor nas demais bolsas de valores, que têm sido castigadas pelo temor de que a crise europeia tenha reflexo em outras economias. Para o curtíssimo prazo, a expectativa é a de continuidade da pressão negativa sobre as cotações de metais, diante das incertezas sobre a Europa e da expectativa em torno de prováveis medidas adotadas pelo governo chinês para combater bolhas inflacionárias. No mercado de óleo, a perspectiva também é de volatilidade, embora, em termos de fundamentos, a commodity tenha "tendência intrínseca" de alta para o longo prazo.
Em relatório de ontem sobre commodities, o Standard Bank aponta que os mercados de ações terão de se estabilizar para que, então, seja possível traçar alguma perspectiva de recuperação nos preços dos metais básicos. "O fortalecimento do dólar (ou euro mais fraco) e o aumento na aversão ao risco e nas chamadas de margem estão adicionando pressão de baixa nas cotações das commodities", explica o banco.
Na sessão de ontem na Bolsa de Metais de Londres (LME), os contratos de cobre para três meses recuaram 2,03%, para US$ 6.502 a tonelada - no fim de março, a cotação superava os US$ 7.800 por tonelada. O zinco também mostrou desvalorização significativa, de 3,53%, para US$ 1.857 por tonelada. Os dois metais acumulam perdas no ano, enquanto o níquel, cujas cotações foram impulsionadas pelo maior consumo de aço inoxidável (que tem alto teor de níquel), ainda resiste no terreno positivo. Até ontem, o contrato do metal para três vezes subia 13,88% em 2010, para US$ 21.130 por tonelada - no dia, houve recuo de 1,74%.
Para o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, os países europeus são importantes consumidores de produtos da China, país que teve papel relevante na ascensão das commodities metálicas nos últimos meses. "Podemos esperar por mais um período de instabilidade à frente. O foco agora está na Europa, mas ainda há a questão das medidas que poderão ser implementadas na China para conter a inflação", avalia.
No mercado de petróleo, os contratos do tipo Brent foram do céu ao inferno em menos de 20 dias: de US$ 88,94 o barril, em 3 de maio, para US$ 73,69 ontem, uma queda de 17%. Para o analista Lucas Brendler, da Geração Futuro, essa oscilação acentuada nos preços reflete mais o comportamento de fundos de hedge e especuladores do que alterações na relação entre oferta e demanda da commodity. "Esses investidores potencializam tanto a alta quanto a baixa do petróleo. Esse é o momento da baixa", explica.
Dados de março da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em 31 de março, a demanda mundial estimada estava em 86,6 milhões de barris por dia, ante oferta de 86,7 milhões de barris diários. À época, o contrato do petróleo Brent era negociado acima de US$ 82 o barril no LME. "A tendência de alta atraiu outros investidores, o que levou o petróleo a quase US$ 90 o barril, um preço que reflete em parte fundamentos e em parte o prêmio por especulação", conta Brendler. Em Londres, o contrato do Brent caiu 0,99% ontem, para US$ 73,69 o barril.
Para os próximos dias, a aposta é a de queda nas cotações, ora por conta do cenário econômico incerto, ora pela valorização do dólar, o que pressiona o preço de produtos expresso na moeda americana. "Olhando apenas fundamentos, a tendência do petróleo é de valorização", pondera o analista da Geração Futuro. A demanda potencial por parte de países emergentes, cujo consumo per capita ainda é bastante inferior ao verificado nos desenvolvidos, e a tendência à escassez na oferta justificam essa avaliação, conforme Brendler.
Fonte: Valor Econômico/ Stella Fontes, de São Paulo
PUBLICIDADE