Um negócio da China. É o que esperam fazer o governo da Bahia e o primeiro grupo de investidores chineses que finalmente se prepara para desembarcar no oeste do Estado. Depois de muitas especulações sobre o interesse de estrangeiros na região - que se destacou nas últimas décadas como uma das últimas "novas" fronteiras agrícolas do país, junto com o cerrado de Maranhão, Piauí, Tocantins ("Mapito") -, o Pallas International assinou com o governo um protocolo de intenções para se instalar no oeste baiano com o objetivo de produzir grãos para exportação e também atuar no segmento de bioenergia, em parceria com produtores locais.s Em princípio, o grupo chinês, formado por investidores privamos, mas sempre com a presença do governo da China como sócio, está interessado em adquirir entre 200 mil e 250 mil hectares de terras tanto no oeste do Estado quanto na região do Mapito. Discretos, mas decididos e, principalmente, capitalizados, os chineses passaram por Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, conheceram o potencial produtivo da região e já consideram a possibilidade de instalar uma indústria de processamento de grãos na Bahia para a produção de biodiesel a partir do processamento de soja, algodão, girassol e mamona. "Para os chineses, a área de agroenergia é um setor de grande interesse. Eles precisavam da assinatura desse protocolo para acelerar a parte burocrática dentro da China e dar andamento no processo de investimento", comemora Eduardo Salles, secretário de Agricultura da Bahia.
Tão ou mais discretos que os chineses são os estrangeiros que já estão instalados e produzindo na fronteira agrícola. O Valor apurou que americanos, holandeses, portugueses e japoneses já fazem parte do cotidiano de Luís Eduardo Magalhães e arredores. São pelo menos dez empresas de médio e grande porte, cultivando principalmente algodão, soja e milho. Já conhecidos pela população local, eles são arredios à entrevistas. "O governo já fica em cima da gente sem que haja exposição na imprensa", disse um produtor americano, que preferiu não dar mais detalhes sobre seus negócios na região. Circulando pelas ruas sem semáforos de Luís Eduardo Magalhães, ora asfaltadas, ora não, a reportagem entrou em contato com pelo menos outros quatro grupos, e a resposta foi sempre a mesma. Prevalece o receio de um aumento excessivo da fiscalização dos órgãos trabalhistas, ambientais e fiscais.
Ao longo da BR-242, que corta toda Luís Eduardo e termina no litoral de Salvador, pelos menos três hotéis de alto padrão costumam receber os estrangeiros que visitam a região. "Sempre tem alguém por aqui falando outra língua. Desde janeiro estamos lotados para a primeira semana de junho, quando começa nossa feira [Bahia Farm Show] e muitos dos quartos são para estrangeiros", revela a recepcionista de um desses hotéis. Não é à toa que grupos como o Pallas e outros estrangeiros estão atentos às oportunidades no "Mapito-BA" e dispostos a investir, principalmente na aquisição de terras. Estimativas do mercado dão conta que exista no mundo aproximadamente US$ 20 bilhões disponíveis para compra de terras agrícolas em todas os países, sendo que pelo menos US$ 5 bilhões teriam como destino certo o Brasil.
"Os estrangeiros enxergam uma oportunidade de investimento e o Brasil é uma das melhores opções, pois em países como Colômbia e Paraguai, além da África e do Leste Europeu, a insegurança institucional ainda é muito grande. O interesse desses investidores é enorme no Brasil, especialmente no Mapito e no oeste da Bahia", diz Fernando Jank, diretor geral da Tiba Agro, empresa brasileira que trabalha na captação de recursos estrangeiros para compra de terras no país e que já possui aproximadamente 320 mil hectares nessa região. O interesse não é por acaso. O cerrado nordestino e do Tocantins está pelo menos mil quilômetros mais próximo do porto que o de Mato Grosso e ainda tem terras mais baratas. Na região de Sinop, norte mato-grossense, o preço médio do hectare é 30% superior à média do "Mapito-BA". Na "nova" fronteira, ainda é possível comprar um hectare por cerca de R$ 5 mil.
Esses investidores estão de olho em 20 milhões de hectares disponíveis para a agricultura, que estão fora do bioma amazônico e não são áreas de pastagem. Desse total, a estimativa é que pelo menos 4 milhões de hectares sejam divididos por 15 grandes grupos, entre investidores estrangeiros e empresas nacionais profissionalizadas, interessados tanto na aquisição de terras para investimento quanto na produção de grãos e fibras. Levantamento feito pelo Valor mostra que essas empresas já possuem pelo menos 2 milhões de hectares, a maior parte deles no Mapito e no oeste baiano, mas também em terras em Mato Grosso. "Esse tipo de empresa possui recursos para abrir áreas onde é possível, investir, mas tem interesse de sair do negócio em algum momento. São empresas que trazem organização para o agronegócio em vários aspectos, inclusive o ambiental, pois não entram em áreas irregulares", diz Flávio Inoue, presidente da Sollus Capital, empresa formada por investidores americanos e brasileiros e que ampliará suas terras dos atuais 35 mil para 80 mil hectares ainda neste ano.
De modo geral, existem dois grupos de investidores. O primeiro, geralmente formado por fundos interessados em aplicações de longo prazo na aquisição de terras baratas para torna-las produtivas e ganhar na valorização e um segundo interessado em terras para produção.
Fonte:Valor On Line
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