O grande aumento nos preços das commodities, somado a um surpreendente desempenho na venda de produtos industrializados, como semimanufaturados de ferro e aço, ferro-gusa e motores de veículos, garantiu ao Brasil resultado surpreendente no comércio exterior nos primeiros nove meses do ano: com exportações e importações recordes para o mês de setembro, o país obteve saldo positivo de US$ 27 bilhões na balança comercial de janeiro a setembro. Só no mês passado, o superávit chegou a US$ 3 bilhões, 85% acima do resultado de setembro de 2010.
"Se estivéssemos concentrados apenas no mercado europeu e no americano, estaríamos sentindo a turbulência e o arrefecimento do crescimento", reconheceu o secretário-executivo-adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Ricardo Shaefer. Em setembro, um dos destaques da exportação foram as vendas de óleo de soja em bruto, que aumentaram 155%, especialmente para China, Índia e Irã.
Segundo o ministério, o aumento nas exportações de minério de ferro, petróleo, soja em grão, café em grão e carne de frango - que representam mais de um terço das vendas brasileiras ao exterior - se explica principalmente pelos altos preços, entre 20% a 61% acima dos patamares verificados nos nove primeiros meses do ano passado.
O maior aumento nas quantidades exportadas foi de apenas 6% para o minério de ferro e 4% para o café em grão. O volume de petróleo exportado até caiu, 1%, o que foi compensado com o aumento de 40% nos preços.
"Tivemos um bom resultado na balança comercial de setembro", avaliou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior Brasileiro (AEB), José Augusto de Castro. "Mas é claro que, em 2012, o cenário vai mudar completamente, com queda nas importações e exportações."
As vendas de produtos manufaturados, sensíveis à desaceleração econômica, subiram 12,3%. Somadas a elas as vendas dos semimanufaturados (produtos usados no processo industrial), que cresceram 40% em setembro, o aumento nas exportações de produtos industrializados chegou a 19,6%, pouco acima da média do crescimento no comércio mundial previsto para este ano pelo FMI.
"As exportações de produtos industrializados cresceram 22,6% até setembro, um aumento expressivo comparado ao crescimento do comércio mundial previsto pelo FMI", comparou a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.
Ela enfatizou que o saldo comercial, de US$ 23 bilhões nos primeiros nove meses do ano, é o maior dos últimos quatro anos. Segundo Tatiana, só no começo do próximo ano deverá fazer efeito a variação do dólar, que, ainda instável, impede qualquer previsão. As importações, em setembro, aumentaram apenas 13,8%, mas ficaram acima de US$ 1 bilhão diário, o que reflete a comparação com as médias de importação muito altas de setembro do ano passado.
Um desempenho que chamou a atenção do governo foi a queda, pela primeira vez em muitos meses, das importações de máquinas e equipamentos para a indústria, os bens de capital. O governo rejeita, porém, a interpretação de que esse resultado reflita uma desaceleração dos investimentos.
A queda se deve, segundo o Ministério do Desenvolvimento, à comparação com setembro de 2010, quando um número reduzido de empresas fez compras "muito expressivas" no exterior de equipamentos siderúrgicos e de energia elétrica. "Se descontarmos as operações atípicas de setembro do ano passado, as importações de bens de capital teriam crescido 8,5%, dentro da média", disse Tatiana.
Para Shaeffer, a queda nas vendas de automóveis, de 13% em setembro, comparadas aos resultados de setembro de 2010, devem se explicar pela preferência pelo mercado interno, que fez aumentar em 40% as importações de veículos no mês. "É cedo para chegar a qualquer conclusão em relação às exportações de manufaturados", disse. "O que se verifica é que é as exportações brasileiras não estão sofrendo impacto da retração nos mercados", disse.
Fonte: Valor Econômico/ Sergio Leo | De Brasília
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