SÃO PAULO - É consenso que o nível atual acima de US$ 60 por tonelada do minério de ferro não é sustentável, comentou nesta quinta-feira o diretor de relações com investidores (RI) da Vale, André Figueiredo, em evento na BM&FBovespa. Segundo ele, daqui para frente a cotação deve cair, principalmente por conta do arrefecimento da demanda chinesa pelo produto.
“As medidas de crédito que hoje ajudam o preço mais alto [da commodity] na China podem passar a ter um peso menor na economia. Há também a questão da sazonalidade, nos aproximamos do inverno na China, onde há menor produção siderúrgica e, portanto, queda na demanda por minério”, disse o executivo. “Vai depender muito da política de Estado chinesa.”
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No orçamento oficial, a Vale ainda coloca como premissa o patamar de US$ 40 a tonelada do minério de ferro. Segundo o diretor, uma margem Ebitda de US$ 20 por tonelada ainda deixa a companhia confortável. No segundo trimestre, o custo por tonelada foi de US$ 28,50 — ou seja, preço de US$ 48,50 ainda não seria temeroso.
“Claro que nós preferimos que o preço volte a US$ 100, mas com uma margem de US$ 20, preço próximo a US$ 50, ainda estamos confortáveis”, afirmou.
Figueiredo acrescentou que está muito difícil prever exatamente qual o caminho que os preços do minério vão tomar — e em que velocidade. Para ele, o mercado futuro, uma das formas de se observar tendência, ainda não é parâmetro.
“Acompanhamos um pouco a SGX, bolsa de Cingapura, mas ainda há pouca liquidez, poucas posições em aberto”, explicou. “Hoje, diferente de outras commodities, esse mercado ainda não é muito desenvolvido, mas talvez no futuro.”
Venda de ativos
Figueiredo também confirmou que a companhia negocia com bancos e potenciais sócios para vender uma parcela de ativo estratégico. Nesse caso, seria provavelmente parte da produção total de minério de ferro do grupo.
Existem algumas possibilidades de transação, segundo o executivo, mas ainda não foi definida qual seria a melhor para a companhia. Além disso, não foi fechado qual será o parceiro da empresa nesse negócio nem qual valor será envolvido, mas algumas premissas são importantes para a mineradora.
“O potencial sócio vai ter que dividir tanto o rico do preço como o risco do volume [do minério de ferro]”, garantiu Figueiredo. “Além disso, temos que levar em conta os diferentes custos de capital. Os juros no Brasil são muito altos, enquanto em outros lugares como na Alemanha e no Japão são próximos a zero.”
O executivo não explicou com detalhes como será a operação, mas disse que não se trata exatamente de um “streaming”, ou venda de produção futura, como a empresa já fez com o ouro. Além disso, a transação também não será a simples alienação de uma fatia de um dos sistemas de produção da empresa.
“Estamos estudando até porque é uma transação que ainda não foi feita”, disse Figueiredo. “Mas nos nossos estudos já vimos que pode, sim, gerar valor.”
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás