As vendas antecipadas da soja que será colhida a partir do início do ano que vem em Mato Grosso dispararam desde junho e já representam 36,2% da produção total prevista para o Estado neste ciclo 2010/11, segundo levantamento realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Nesta mesma época do ano passado, quando estava em andamento a comercialização da safra 2009/10, o percentual era de 22,5%.
Segundo a projeção mais recente do órgão vinculado à Famato - a federação da agricultura e pecuária do Estado -, a produção do grão deverá somar 18,7 milhões de toneladas em Mato Grosso na temporada atual, ainda um pouco abaixo do volume de 2009/10 (18,8 milhões). A previsão é resultado de uma área plantada calculada em 6,2 milhões de hectares, mesmo patamar do ciclo passado, e de uma produtividade estimada em 3.001 quilos por hectare, também praticamente sem variação.
De acordo com Maria Amélia, gestora do núcleo de cadeias do Imea, os bons preços praticados no mercado internacional são a principal razão para a aceleração das vendas antecipadas. A partir dos dados que coletou, ela afirmou, inclusive, que esta aceleração poderia ser maior não fossem as incertezas climáticas que pairam sobre a temporada 2010/11. Este é um ano de La Niña, e o fenômeno costuma reduzir o volume de chuvas na porção sul da América do Sul e atrapalhar a safra.
Isso já acontece em Mato Grosso, o maior Estado brasileiro produtor de soja, produto que é o carro-chefe do agronegócio brasileiro. Tanto que, apesar de o plantio estar liberado desde o dia 15 de setembro, a falta de precipitações já começou a atrasar os trabalhos, que dependem de água nesta fase inicial. Nesta mesma fase da temporada 2009/10, o plantio havia coberto pouco mais de 2% da área total projetada, de acordo com o Imea.
Maria Amélia ressalva que não é possível afirmar que ninguém começou a plantar, mas que os casos são pontuais. E as previsões meteorológicas insistem em indicar que só haverá chuvas regulares em Mato Grosso a partir da segunda quinzena de outubro. "Por isso não é possível avançar mais nas vendas antecipadas. Mesmo que os preços estejam bons, o produtor ainda tem dificuldades em saber quanto terá para entregar aos compradores em janeiro e fevereiro".
O risco de quebras na produção provocadas por estiagens sobretudo do Sul do país e na Argentina também motiva as grandes tradings a comprar antecipadamente os volumes que seus clientes no exterior, especialmente na China, vão querer receber a partir do início de 2011. É uma postura diferente daquela que as tradings tiveram nas duas últimas safras, seja pela escassez de crédito que se seguiu ao aprofundamento da crise financeira global, em setembro de 2008, seja pela expectativa - não confirmada - de queda das cotações que dominou o mercado durante boa parte do ano passado.
Ontem, na bolsa de Chicago, as cotações caíram. Os contratos para janeiro fecharam a US$ 11,1975 por bushel, baixa de 18,50 centavos de dólar em relação à véspera. Nos últimos 12 meses, contudo, a valorização acumulada chega a 21,12%.
Fonte: valor Econômico/Fernando Lopes | De São Paulo
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