Há uma semana, Carlos Pastoriza assumiu a presidência da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que representa 6,5 mil empresas que fabricam diversos tipos de bens de capital mecânicos no país. O momento em que chega ao comando da entidade, afirma, "é extremamente dramático". Passados os primeiros seis meses de 2014, o setor tem uma queda de faturamento dois dígitos, após retrações em 2013 e também no ano anterior.
Diante de uma "desindustrialização silenciosa" do país, com empresas que antes fabricavam no país passando a importar, Pastoriza mostra ter muito fôlego para lutar por medidas que possam trazer mais competitividade às companhias.
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Nos últimos meses, como diretor-secretário da associação, ele vem participando de reuniões com o governo, com Luiz Aubert Neto, ex-presidente da entidade e que agora passa a ser primeiro vice-presidente, e com José Velloso, presidente executivo. Esteve com a presidente Dilma Rousseff e também com Aécio Neves e Eduardo Campos, para quem apresentou os números do setor e as propostas da entidade para o país.
Com cada um deles, deixou uma cartilha de 31 páginas com o resumo dos pleitos da Abimaq, que incluem reformas política, fiscal, tributária e educacional, além de diversas medidas específicas para a indústria de bens de capital mecânicos (ver tabela). "Estamos discutindo em profundidade toda a problemática macroeconômica do país e o risco que corremos de dizimar a indústria da transformação", diz.
Nos próximos quatro anos, ele assegura que vai fazer o máximo de pressão possível para que o governo promova mudanças que deem forças para a indústria da transformação. "O meu objetivo é lutar com todas as forças, angariando mais forças com outros setores, para pressionar o presidente do país a partir de 1º de janeiro de 2015, seja quem for, a fazer reestruturações difíceis e pouco populares", afirma o empresário. Pastoriza é sócio da Multivibro, fabricante e importadora de equipamentos para classificação e peneiramento de materiais, como peneiras vibratórias e motovibradoras.
Na visão de Pastoriza, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve oportunidade para fazer reformas no país, quando o Brasil tinha uma situação econômica mais favorável, mas optou por outro caminho.
O novo presidente da entidade diz que a partir de agora o governo terá de enfrentar os problemas estruturais do país, reduzindo juros e carga tributária e tomando medidas para incentivar investimentos produtivos. "Se as reformas não forem feitas, corremos o risco de voltar a ser um país colônia, e não de ser um país potência, como pretendíamos."
Hoje, o custo de se produzir qualquer equipamento no Brasil é 30% a 40% mais alto do que na Alemanha, afirma Pastoriza, o que impede o crescimento do setor. "É uma diferença dramática de custos. Ser industrial na indústria da transformação no Brasil virou um grande mico", afirma.
A Abimaq tem 30 câmaras setoriais e, segundo Pastoriza, nas conversas com empresários de diversos segmentos, observa-se que alguns estão fechando operações fabris e transformando suas empresas em importadoras. "Algumas não estão capitalizadas nem mesmo para fechar suas portas, o que também é caro no Brasil", afirma.
Como consequência dos altos custos de produção e da falta de investimentos produtivos no país, o faturamento do setor de máquinas e equipamentos está em forte retração. Nos primeiros cinco meses deste ano, as vendas foram 14% menores do que no mesmo período do ano passado. A estimativa da Abimaq é de terminar 2014 com cerca de R$ 70 bilhões, 11% abaixo dos R$ 79,9 bilhões do ano passado que, por sua vez, foi 5,7% inferior ao faturamento de 2012, também menor do que o de 2011. Considerando apenas as vendas no mercado interno, o faturamento da empresa local caiu 33% neste ano, diz o presidente da Abimaq.
As maiores dificuldades, segundo ele, são das companhias de máquinas-ferramenta, que são usadas para a produção de peças para outras máquinas. "Essas são as máquinas que qualquer outra indústria precisa, e esses fabricantes estão desaparecendo do mercado. Isso indica uma situação de menor produção da indústria da transformação no futuro próximo", afirma Pastoriza.
Na comparação com as indústrias extrativa e a de construção civil, o presidente da Abimaq diz que a transformação é a mais prejudicada pelos altos custos no país, pois tem uma longa cadeia produtiva e, com isso, paga impostos em cascata. "É preciso atacar todos os componentes do 'custo Brasil' de maneira radical e obcecada a partir do início do ano que vem. E vamos pressionar para que isso aconteça. Não temos mais tempo a perder", afirma.
Fonte: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo