Notícias em geral positivas no campo das ofertas e o fortalecimento do dólar em relação a outras moedas, inclusive o real, tiraram sustentação, em março, dos preços das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior e referenciadas nas bolsas americanas de Chicago e Nova York.
Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) mostram que as principais retrações sobre fevereiro envolveram "soft commodities" em Nova York. Mas em Chicago os grãos também registraram quedas, ainda que modestas.
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Dos oito produtos incluídos neste levantamento, o que apresentou a maior variação negativa na comparação entre março e fevereiro foi o café (12,67%). Na sequência aparecem o açúcar (10,35%), o suco de laranja (9,45%), o cacau (2,01%), a soja (1,37%), o trigo (1,43%), o algodão (0,80%) e o milho (0,32%).
Com isso, apenas o algodão garantiu, em março, uma média maior que em dezembro (3,17%). Em relação a março de 2014 as médias das oito commodities ficaram em patamares mais baixos. Nessa comparação, os destaques são os recuos de algodão (31,02%), soja (30,20%), café (27,19%) e açúcar (27,19%).
As médias registradas no primeiro trimestre corroboram que a erosão não é apenas conjuntural. Em Nova York, os futuros do açúcar bateram na menor média trimestral desde o primeiro trimestre de 2009. Em Chicago, soja e trigo desceram ao mais baixo degrau desde o segundo trimestre de 2010.
E, na maior parte dos casos, os sinais mais nítidos indicam que as curvas descendentes ainda podem se tornar mais agudas, como sinalizam os mais recentes movimentos dos fundos de investimento que especulam nesses mercados. Mas há exceções, para as quais há espaço para "soluços altistas" no curto prazo.
Uma delas é o milho. A queda do petróleo e o arrefecimento da demanda chinesa fizeram disparar as apostas dos fundos na queda do cereal em meados de março em Chicago. Entretanto, a expectativa de redução da área plantada nos EUA na safra 2015/16 e os sinais de recuperação das exportações do país na semana passada voltaram a fortalecer as apostas em uma valorização.
Relatório divulgado na sexta-feira pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) indicou que os gestores de recursos ("managed money") fecharam a semana passada com posição líquida de compra (que indica a crença na alta das cotações) de 751 contratos do grão, entre futuros e opções. Na semana anterior, havia um saldo líquido vendido de 37.030 contratos.
No período, o otimismo dos fundos cresceu também em relação ao trigo. O clima seco sobre as Grandes Planícies dos EUA, onde se concentra a produção da commodity no país, alimenta temores de que a safra possa ser afetada. Diante disso, a posição líquida vendida do trigo brando caiu 2,3% na semana passada, para 65.965 contratos. No trigo duro, a confiança na alta dos preços aumentou e o saldo líquido comprado cresceu 38,7%, para 6.443 contratos.
Também em Chicago, a soja iniciou o mês cercada de apostas positivas. Elas perderam sustentação por causa da tendência de ampliação da área plantada nos EUA (ver Estoques americanos nas alturas) e do avanço relativamente tranquilo da colheita na América do Sul, mas na semana passada recuperaram um pouco do ânimo em razão de um passageiro arrefecimento do dólar e do aumento das exportações americanas. Assim, o saldo líquido vendido da soja ficou em 38.842 contratos na semana até o dia 24, redução de 2,12% sobre a anterior.
Em Nova York, outra commodity que respirou foi o algodão, diante das projeções que sinalizam queda na área plantada com a fibra nos EUA. O saldo líquido comprado aumentou 28,3% na semana até o dia 24, para 26.880 contratos. Mas preocupações com o enfraquecimento da demanda chinesa e o aumento dos estoques globais limitam o espaço para grandes altas de preços.
Apesar do arrefecimento da semana passada, março foi mais um mês de fortalecimento do dólar, e a tendência caiu como uma pedra sobre as cotações de açúcar e café em Nova York. O dólar valorizado pressiona mais os dois produtos porque impulsiona as vendas do Brasil, que lidera a oferta global de ambas.
Tendo em vista que o clima nas regiões produtoras brasileiras também ficou favorável às lavouras, o aumento nas apostas de baixa da dupla foi expressivo. O saldo líquido vendido do açúcar cresceu 10% na semana passada, para 116.984 contratos, enquanto a posição líquida vendida do café aumentou 54,7%, para 8.399 contratos.
Os fundos também ficaram menos confiantes na alta do cacau em Nova York. Sobre a amêndoa, pesa o clima benéfico ao desenvolvimento das lavouras no oeste da África, onde estão os maiores produtores mundiais. De acordo com a CFTC, a posição líquida de compra do cacau diminuiu 37%, para 20.863 contratos.
Quanto ao suco de laranja, a demanda pela bebida nos EUA continua decepcionante e o clima segue favorável nas principais regiões produtoras de laranja do mundo - São Paulo e Flórida. Mas, com ajustes técnicos, os fundos reduziram em 9,5% o saldo líquido vendido, para 4.351 contratos.
(Fonte: Valor Econômico/Mariana Caetano, Fernando Lopes e Fernanda Pressinott | De São Paulo)