Companhia Siderúrgica do Atlântico começa a funcionar na próxima sexta-feira e turbina os negócios na Zona Oeste do Rio. Empregados estão em treinamento e equipamentos, em testes. Do lado de fora do muro, economia já ferve
Rio - Quem olha de longe ainda não percebe, mas Santa Cruz e seu entorno estão vivendo um boom. Construção civil, mercado imobiliário e comércio são os beneficiados até agora, e o motivo é a Companhia Siderúrgica do Atlântico, que começa a operar nesta sexta-feira. A empresa que, sozinha, vai aumentar em 40% a produção de aço no Brasil, já movimenta a economia ao seu redor e transformou o bairro João XXIII.
Ainda há casas muito pobres e gente sem emprego. Mas na Chatuba, como é chamado o largo no fim da principal rua, são vistos funcionários da CSA, terceirizados e futuros empregados do distrito industrial, que tem 35 anos, mas só agora deslanchou. Luciano de Paula começou a trabalhar no Porto de Sepetiba. Aos 21 anos, já rodou nas kombis que circulam na região, serviu no quartel e deu expediente na obra da usina. Agora, voltou a estudar e se prepara para quando a usina abrir mais vagas de emprego.
Baiano, ou Ademir Firmino, 46, é eletricista veterano. Trabalhou na Hidrelétrica de Paulo Afonso (BA), sua cidade natal. Com salário de R$ 3 mil em uma empreiteira, nunca mais passou fome como na infância. Quando acabar o contrato, seguirá para a próxima obra. Como Luciano e Baiano, outras 30 mil pessoas passaram pelo canteiro de obras que ergueu, do mangue, a CSA. Hoje, 3.500 funcionários — a maior parte empregados diretos — vão operar a usina. “A mão de obra da construção é flutuante. As pessoas já estão mais preparadas do que quando chegaram”, explica o diretor de Recursos Humanos, Valdir Monteiro.
Para quem fica, a expectativa é de crescimento profissional. Renata Lima, 34, sempre trabalhou como assistente administrativa. Em 2007, participou da seleção para o curso bancado pela CSA, no Senai, de Operação em Processamento Metalúrgico. Em janeiro de 2009, foi chamada e atualmente bate ponto na coqueria da usina. “Minha vida mudou muito. Passo mais tempo com os filhos e fui aprovada para a faculdade de Metalurgia”, conta.
Dinheiro circulando atrai empreendedores
O comércio foi o primeiro a sentir o impacto da instalação da CSA. Só o bairro de Santa Cruz, de 2007 para cá, ganhou 2.374 novas empresas registradas na Junta Comercial do Rio. De olho no desenvolvimento, o Sebrae- RJ busca apoiar novos empreendedores. “Estamos reunindo empresários da cadeia produtiva do aço e recebendo pessoas que aproveitam a circulação maior de dinheiro na região”, diz Sergio Malta, superintendente da entidade. Sueli Vieira e o marido Luciano estão entre eles. O casal abriu em janeiro o restaurante Frigideira.com, que lota na hora do almoço. “Na usina, tem refeitórios, mas eles querem uma comidinha diferente, e a gente oferece”, conta ela.
No andar de baixo, os donos da RM Soldas acreditam que já aproveitaram o auge, mas seguem investindo. “Nossos produtos são mais necessários na época da obra. Mas outras empresas virão e vamos fornecer para elas também”, prevê o sócio Rodrigo Pereira, 28 anos, que atribui 60% do faturamento à CSA. Ele chegou a fornecer para a usina como vendedor até abrir o próprio negócio e prosperar.
Alunos do Senai disputam as últimas vagas
Não são poucas as mulheres que batem ponto na nova indústria. Na seleção em parceria entre Senai e CSA, elas se classificaram bem, conta o coordenador de Educação, André Peluso. Marília dos Santos, 28 anos, é uma das alunas do curso, que prepara para o serviço na usina, mas não garante vaga. A mãe de Felipe, de 1 ano e meio, já tem formação técnica, mas ainda não conseguiu emprego na área.
Como ela, o estudante Alvaci Cardoso começou o curso fazendo sacrifício. Casado e com uma filha, ele pediu demissão do emprego como professor de informática e trabalha de madrugada em hospital, ganhando menos. “Dei um passo atrás para dar outro, adiante. Estou me dedicando para ter boas notas”, conta ele.
O desempenho no curso é um critério avaliado pela CSA. A empresa espera contratar mais 150 formandos. Outros deverão trabalhar nas demais empresas da área ou preencher vagas de reserva. “O maior obstáculo é lidar com a expectativa”, diz o diretor Valdir Monteiro.
Governo aposta no calor dos altos fornos
A expectativa sobre a CSA não é só da população que quer emprego. O governo do estado também espera uma revolução a partir da usina. “Temos outros projetos para a região. É um boom de desenvolvimento”, avalia o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno. Um porto de conteiners de Docas, novos portos para a Usiminas e para a CSN, Gerdau e Vale são alguns planos enumerados. Para ele, a CSA beneficiará a Avenida Brasil. “Às margens da Washington Luis, tem progresso, tem empresas, porque, no fim, tem a Refinaria de Duque de Caxias. A CSA vai cumprir esse papel”, aposta.
A empresa também investe nas compensações sociais a que é obrigada pela licença ambiental. Construiu sede para a UPA de Itaguaí, pagou por dois centros de informática em escolas locais, faz parcerias com empreendedores e apoia iniciativas de reforço escolar e educação. Hoje, lança projeto de unidade de Ensino Médio no bairro e, em setembro, escola técnica em Itaguaí.
Fonte: O Dia Online/TAMARA MENEZES
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