A Prumo Logística, companhia controlada pelo EIG Global Energy Partners e que é dona do Porto do Açu, em São João da Barra (RJ), fechou um acordo para comprar a fatia de 20% da alemã Oiltanking na Açu Petróleo. Com a aquisição, a Prumo passa a deter 100% da empresa especializada em operações de transbordo de óleo. Em paralelo, a Açu Petróleo concluiu uma captação de US$ 600 milhões junto a investidores estrangeiros, numa emissão que permitirá à companhia financiar parte de seu plano de crescimento.
A Açu Petróleo tentou abrir o capital na bolsa entre 2020 e 2021, mas não encontrou as condições favoráveis para avançar com a operação. O presidente da Prumo, Tadeu Fraga, afirma, no entanto, que a empresa segue atenta às oportunidades e que uma oferta pública inicial de ações (“IPO”, na sigla em inglês) continua nos planos da companhia de transbordo.
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“O mercado ainda não cristalizou a percepção que nós temos, a convicção que nós temos [na Açu Petróleo]. Além de outros fatores, como a deterioração do mercado por agentes externos. Não vamos fazer a abertura de capital por valor inferior àquele que julgamos que a companhia vale. Entendemos que empresa vai ser objeto de abertura de capital em algum momento na sua história à frente, não muda a estratégia”, disse Fraga.
A tese de investimento da Açu Petróleo se baseia nas perspectivas de crescimento das exportações de petróleo. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que cerca de dois terços da produção nacional será exportada em 2031. A estatal prevê que os volumes de exportação praticamente dobrarão em dez anos, para 3,41 milhões de barris/dia. Esse volume poderá alçar o Brasil como um dos cinco maiores exportadores do mundo.
A Açu Petróleo presta serviços de transbordo de petróleo para empresas como a Petrobras, Equinor, Shell, TotalEnergies e Galp e movimenta cerca de 350 mil barris/dia de óleo - em torno de 30% das exportações brasileiras.
A Prumo decidiu dobrar a aposta na companhia e procurou a sua então sócia Oiltanking para fazer uma proposta para ficar com 100% do ativo. Fraga diz que a operação foi uma “oportunidade que apareceu” e que a Prumo optou pela aquisição para ter “mais agilidade, flexibilidade e liberdade nas tomadas de decisão” vinculadas ao plano de crescimento da Açu Petróleo - que tem planos de investir entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões num parque de tancagem no Açu, com capacidade para 5,7 milhões de barris, associado a dois oleodutos.
Questionado se a operação não contradiz a estratégia da Prumo de atuar em parcerias e investir apenas no início do desenvolvimento dos negócios, Fraga respondeu que a operação está alinhada ao plano da companhia de atuar como investidora em negócios-chave para o desenvolvimento do Porto.
“Naquilo que for fundamental nossa participação para garantir o crescimento adicional, estaremos sempre dispostos a aportar capital, ainda mais em ativos com grandes perspectivas de crescimento futuro, como é o caso da Açu Petróleo”, afirmou.
O Valor tentou entrar em contato, sem sucesso, com a Oiltanking. A empresa alemã anunciou em 2021 uma reestruturação interna, visando a acelerar o plano de transição energética. A multinacional permanecerá como fornecedora de serviços de operação e manutenção de longo prazo do terminal de transbordo do Açu.
A aquisição da fatia de 20% da alemã na Açu Petróleo, cujo valor não foi revelado, foi bancada com recursos próprios da Prumo. A engenharia financeira da operação, contudo, passou também por uma emissão de bonds por parte da empresa de transbordo.
A Açu Petróleo captou títulos de dívida no exterior, no valor de US$ 600 milhões, com taxa de juros de 7.50% ao ano e prazo de pagamento até 2035. O dinheiro será utilizado para quitar uma linha de financiamento existente, para uma distribuição entre os acionistas (no caso, a própria Prumo) e para apoiar a expansão dos negócios.
O presidente da companhia, Victor Bomfim, diz que a captação e a reestruturação societária da companhia preparam o terreno para que a empresa comece a pensar em “voos maiores”. Ele evita dar prazos para início das obras no projeto de tancagem. Segundo Bomfim, a empresa ainda trabalha em questões tributárias e regulatórias e em negociações com potenciais clientes. A ideia é avançar “o mais cedo possível”.
“Enfrentamos o problema do primeiro movimento. Não existe hoje no Brasil nenhum operador de terminal privado de petróleo, nem de dutos. É uma novidade para o regulador, para Transpetro, para mercado como um todo”, disse.
Fonte: Valor