Exportações mato-grossenses estão prejudicadas em função da desvalorização do dólar frente ao real
Tendência traçada pelo mercado não prevê grandes alterações ao atual quadro de desvalorização e perdas às commodities seguem inevitáveis
A desvalorização do dólar frente ao real está consumindo parte da receita originada nas exportações que o Estado acumula ao longo do ano. Considerando a taxa média de R$ 1,68 para moeda norte-americana em outubro deste ano, Mato Grosso deixou de faturar cerca de meio bilhão, já que as perdas cambiais abocanharam cerca de R$ 434 milhões nos dez primeiros meses de 2010. No mesmo período do ano passado, a taxa média em vigor em igual mês de comparação foi de R$ 1,74.
Para se chegar às cifras é preciso converter à taxa atual a receita gerada com os embarques no acumulado de 2010. De janeiro a outubro deste ano os embarques originaram receita de US$ 7,24 bilhões. As cifras, quando convertidas à taxa média de outubro deste ano (R$ 1,68), se transformam em R$ 12,16 bilhões. Já o mesmo faturamento em dólar, sob a taxa média de outubro do ano passado (R$ 1,74), renderia R$ 12,59 milhões, uma diferença de R$ 434,49 milhões. Em dólar, as vendas externas mato-grossenses somaram de janeiro a outubro deste ano US$ 7,24 bilhões, contra US$ 7,46 bilhões no acumulado do mesmo período do ano passado, redução de 2,94%.
Comparando o desempenho dos meses de outubro as perdas cambiais somam R$ 32,75 milhões, ou, -3,45%, na análise anual. As vendas efetuadas no mês passado somaram US$ 545,78 milhões. Em outubro do ano passado foram US$ 595,42 milhões. A receita do mês passado sob uma taxa de R$ 1,74 geraria R$ 949,66 milhões. Já sob taxa de R$ 1,68, o faturamento vai a R$ 916,91 milhões. Em reais, uma receita menos a outra gera a diferença de R$ 32,75 milhões.
“O drama da valorização do real é que Mato Grosso vende (exporta) commodities agrícolas, o preço de uma tonelada destes produtos é cotado em dólar e na hora de converter, a defasagem cambial abocanha mais reais, quando o dólar enfraquece”, explica o assessor econômico da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), Carlos Vitor Timo Ribeiro.
Em um exemplo do peso da defasagem, Timo considera a tonelada da soja. Se a tonelada custar US$ 500 FOB (no porto) e a taxa (o dólar) estiver em R$ 2,39 (como esteve em dezembro de 2008), quem vendeu recebeu R$ 1.195, ao converter as moedas. A mesma tonelada sob um dólar de R$ 1,68 vai para R$ 840, perdas de 29,7% sobre o valor, ou de R$ 355 reais a menos no bolso do exportador por uma tonelada. “Imagine essa diferença em milhões de toneladas?”, indaga.
As perdas geradas pela defasagem cambial somaram em julho deste ano R$ 789 milhões. “Há uma redução em função das diferentes cotações que o dólar recebeu nos períodos de análise”.
2010 - Diante das sinalizações de acomodação da taxa de câmbio, da agregação de valor na pauta mato-grossense e de um mercado interno mais atrativo, Timo acredita que o resultado das exportações em 2010 deverá ficar muito próximo do realizado em 2009, US$ 8,49 bilhões. “Tomara que sejamos surpreendidos”, afinal, no acumulado dos dez primeiros meses deste ano, há uma queda de quase 3% sobre igual período do ano passado. “Com um dólar menos competitivo às exportações e com um mercado interno mais aquecido, parte da pauta está sendo remanejada”. Em outras palavras, a soja que era embarcada em grandes quantidades em grão fica no país e vira biodiesel. O milho que poderia ser embarcado vira ração, alimenta aves e suínos, e a carne deles é que segue rumo aos principais consumidores internacionais.
Como explica Timo, as exportações do complexo soja – grão, farelo e óleo – acumulam perdas sensíveis neste ano. O grão encolheu 18% e o óleo, 22%. “Esse adensamento da cadeia é positivo e reflete o processo de industrialização do Estado. A queda nos embarques da soja em grão é tendência”.
Tomara que a tendência seja duradoura e que o consumo interno mantenha o apetite. As projeções para o dólar apontam para uma média de R$ 1,75 para dezembro de 2011. Se a taxa se confirmar, haverá um ganho nominal de 2,9% sobre a expectativa de R$ 1,70 para este ano. Porém, se for considerada a inflação do período, a elevação do dólar não será vista na prática. As projeções para a inflação no Brasil indicam algo na casa dos 5%, para 2010 iria a 5,48% e em 2011 a 5,15%. No entanto, economistas já projetam inflação na casa dos 6% no primeiro ano do governo Dilma Rousseff. “Para se corrigir a paridade é preciso um dólar mais robusto”. Timo lembra que em julho de 2008 o câmbio teve média de R$ 1,59, passou a R$ 1,80 em setembro – eclosão da crise mundial – e fechou dezembro daquele ano em R$ 2,39, em média. A taxa se manteve na média de R$ 2 de maio a novembro de 2009, caindo a R$ 1,75 em dezembro do ano passado.
Fonte: Diário de Cuiabá/MARIANNA PERES
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