O recuo nas cotações do petróleo ao menor nível desde 2009 terá forte impacto na América Latina nos próximos meses. Os reflexos, positivos ou negativos, dependem de cada país. Analistas vislumbram vencedores e perdedores com esse movimento de preços.
País com a energia mais cara da região, o Chile está no grupo dos beneficiados. Os chilenos importaram em 2013 cerca de US$ 13 bilhões em petróleo e derivados, quase 20% de suas importações totais. Os preços menores devem dar alívio ao país, que vem sofrendo desaceleração econômica causada pela perda de valor de sua principal commodity de exportação, o cobre. No terceiro trimestre, a economia chilena cresceu apenas 0,8% frente ao mesmo período de 2013.
Nesse mesmo grupo encontram-se países importadores líquidos de petróleo na região, como o Peru - também afetado pela queda dos metais - e o Uruguai.
Na outra ponta, está a Venezuela, o país latino-americano mais dependente do setor petroleiro. Ao todo, o produto responde por 96% das suas exportações. A economia venezuelana já vive uma situação caótica, mesclando alta inflação, escassez de dólares e de produtos essenciais a um elevado déficit fiscal, estimado por analistas em cerca de 15% do PIB.
Um grupo intermediário reúne as maiores economias da região. Brasil, México, Argentina e Colômbia podem ver prejudicados seus planos de investimento em grandes reservas, com as quais contam para aumentar suas receitas e com exportação nos próximos anos.
Os baixos preços tendem a desestimular investimentos no pré-sal brasileiro, nos grandes campos de xisto da Argentina, como Vaca Muerta, e no recém-aberto setor petrolífero do México. A Colômbia, por sua vez, precisa encontrar mais petróleo, pois suas jazidas devem se esgotar por volta de 2021.
"Em geral, para a América Latina, essa realidade de correção significativa dos preços de commodities, significa deterioração dos termos de troca, perda de renda e, como tal, é um vento contra com relação à atividade", diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs. "O risco é maior para grandes produtores e exportadores. Aí, se agrava a situação macroeconômica da Venezuela, que estava supercrítica".
Não por acaso, o governo de Caracas foi um dos mais ativos no embate dentro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) envolvendo a possibilidade de cortes na produção - mas foi voto vencido, ao lado do Irã. Antes mesmo de os preços desabarem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já previa uma queda de 3% no PIB do país para este ano.
"A recessão deve se agravar em 2015, e aumenta a probabilidade de ruptura econômica, política e social", diz Ramos, que vê como "insustentável" o atual modelo, baseado em câmbio fixo, controle de preços e poucos investimentos.
O economista César Ferrari, ex-presidente do Banco Central do Peru, vai mais longe. Diz que a queda "coloca em risco a estabilidade do governo" Nicolas Maduro. Se o recuo nas cotações for persistente, diz ele, dificilmente Caracas conseguirá manter os subsídios sociais que ajudaram a manter o apoio ao chavismo nos últimos anos.
Um agravante para Venezuela é o fato de seu produto ser mais barato do que o negociado no mercado externo. Na semana encerrada na sexta-feira, segundo o Ministério do Petróleo, o cru venezuelano foi negociado, em média, a US$ 68,08 o barril, frente à média de US$ 77,74 do Brent. Na sexta-feira, o Brent fechou em Londres a US$ 70,15 para entrega em janeiro.
Equador e Bolívia, dependentes do setor de hidrocarbonetos, também serão prejudicados. À diferença da Venezuela, esses países têm a economia ajustada e um colchão maior para aguentar o impacto. A Bolívia vem tendo nos últimos anos superávit fiscal. O gás responde por 70% das vendas externas do país, que tem no Brasil seu maior cliente. O Equador, por sua vez, exportou US$ 14 bilhões em petróleo e derivados em 2013, de um total de US$ 24 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/Fabio Murakawa | De São Paulo
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