A Raízen Energia, braço sucroalcooleiro controlado por Cosan e Shell, deverá ter em 2014 um novo corte de investimentos. Projetos não prioritários serão adiados ou executados a passos mais lentos, para dar lugar aos que buscam maximizar a eficiência agrícola. O vice-presidente de açúcar e etanol da Raízen, Pedro Mizutani, diz que a contenção em toda a empresa, que também concentra a operação de distribuição de combustível, deverá ficar entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões, e a maior parte dessa retração recairá sobre a operação sucroalcooleira.
O "aperto do cinto" no negócio de açúcar e etanol começou em outubro e já afetou projetos em 2013 com uma redução semelhante à projetada para 2014. Mas, ainda assim, o segmento sucroalcooleiro deverá fechar este ano com investimentos mais elevados que em 2012. Entre janeiro e setembro, os aportes somaram R$ 1,9 bilhão e foram 6% mais elevados que no mesmo intervalo do ano passado. A companhia não informou sua projeção para o valor total a ser aplicado em 2013.
Mizutani afirma que a companhia vai atuar ainda mais agressivamente na busca de eficiência de sua gestão agrícola. É nessa área que vão se concentrar seus esforços e recursos. Assim, investimentos não prioritários sairão da fila de "curto prazo" ou caminharão mais devagar. Entre eles está o aumento da capacidade de produção de eletricidade nas plantas de cogeração. Ele lembra que a Raízen vinha ampliando algumas unidades para produzir energia em 11 meses no ano - e não só durante os oito meses de moagem de cana -, mas que, por enquanto, esse projeto deixará a lista de urgências.
A redução de marcha deverá afetar também os planos de aumento da capacidade para fabricação de etanol anidro, cujo mercado basicamente se restringe à mistura na gasolina vendida no país e às exportações. Esse biocombustível já representa 45% de todo o etanol produzido pela Raízen. E o objetivo no longo prazo, diz Mizutani, continua a ser elevar esse percentual para 100%.
O posicionamento do governo americano de reduzir seu mandato para os biocombustíveis pesou nessa decisão, observa Mizutani, tendo em vista que as exportações brasileiras do produto, expressivas para os Estados Unidos, tendem a cair daqui em diante.
O executivo reconhece que será um grande desafio fazer mais com menos, uma vez que a companhia mantém em curso um ambicioso plano de expansão de moagem de cana. O projeto é elevar o processamento da matéria-prima das atuais 61 milhões de toneladas, o que já torna a Raízen líder mundial na atividade, para 70 milhões de toneladas até a temporada 2016/17.
Esse objetivo conta com o apoio de um programa que visa "transferir" áreas de cana administradas pela empresa aos fornecedores mais eficientes. Atualmente, 50% de toda a matéria-prima processada pela companhia vem de canaviais próprios. Mas, ao fim do ciclo atual, esse percentual deverá recuar para 45%, enquanto a cana proveniente de áreas administradas por fornecedores crescerá para 55%. "Isso amplia a escala do fornecedor e reduz o capital empregado pela companhia", explica Mizutani. A Raízen pretende avançar nessa estratégia nos próximos cinco anos. Mas mantém a divisão que considera ideal em sigilo.
Não são apenas cortes de investimento que sustentam a estratégia da Raízen. A empresa, diz o executivo, está aprimorando o uso de tecnologias de precisão para aumentar o volume de cana colhido na mesma área. O plantio alternado também está sendo adotado para ampliar a quantidade de plantas na mesma área. A meta é alcançar uma produtividade média de 90 toneladas de cana por hectare, ante as 84 toneladas alcançadas nesta temporada 2013/14.
Na mesma linha, a Raízen trabalha para reduzir o número médio de dias de moagem. A ideia é conseguir moer cana com mais concentração de açúcar e também reduzir custos. Historicamente, a moagem de cana no Centro-Sul era realizada em 180 dias - entre 15 de maio e 15 de outubro. Mas a necessidade do segmento de moer mais e driblar os dias parados da indústria devido a chuvas alargou essa duração para 240 dias, de 15 de abril a 20 de dezembro. "Essa estratégia não vem compensando. As usinas ganham em volume de cana, mas o teor de açúcar cai muito".
Para o executivo, o ideal seria que houvesse um encurtamento da safra para 210 dias, a fim de elevar a eficiência. Ele espera que a companhia consiga, em duas safras, atingir essa marca. "Essa questão tem uma variável imponderável, que é o clima". O fato é que a Raízen considera factível elevar nos próximos anos o teor de açúcar na cana (ATR - Açúcar Total Recuperável) a 12,5 mil quilos por hectare, ante a marca de 11,256 mil quilos atingido em 2013/14.
Fonte: Valor Econômico/Fabiana Batista | De São Paulo
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