Mesmo com a queda nos preços do aço internacional e de suas principais matérias-primas, e em meio a uma grande crise de baixa demanda no país, as siderúrgicas brasileiras conseguiram repassar reajustes a seus clientes devido à alta do dólar e dos custo internos, como energia. A baixa competição com o produto importado e o câmbio foram os principais fatores que contribuíram para esse movimento.
Os preços do aço, internacionalmente, tiveram impacto para baixo com a inundação do mercado com produtos siderúrgicos oriundo da China. Isso pressionou a cotação em vários países. No Brasil, a desvalorização do real diante das principais moedas limitou importações e tornou os itens nacionais baratos em relação aos estrangeiros - o que sustentou os reajustes.
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Historicamente, a possibilidade de pronta entrega e a qualidade dos produtos faz com que o aço brasileiro seja vendido no mercado doméstico a um prêmio entre 5% a 10% ante o importado, a depender do segmento. Além disso, como as siderúrgicas locais sofrem com custo maior de energia, as despesas com mão de obra e a carga tributária em geral, costumam comercializar seus produtos com esse sobrepreço.
Segundo dados da SteelBenchmarker, consultoria que coleta preços de produtos siderúrgicos e metálicos, no começo deste mês a bobina a quente chinesa, atual referência do mercado internacional de aço, era vendida a cerca de US$ 255 por tonelada. No acumulado de 2015, a queda é de 45%.
O que explica essa desvalorização é principalmente o excesso de oferta no mundo. A Worldsteel Association informa que de janeiro a outubro a produção de aço bruto caiu 2,5% no mundo ante igual período de 2014, para 1,35 bilhão de toneladas, mas na China o recuo foi de 2,2%, para 675,1 milhões. Mas em uma década, a fatia chinesa do total saltou de 33,7% para 50,2% e ajudou a derrubar em mais de 60% os preços mundiais em apenas cinco anos.
Também ajudou na desvalorização o fato de que os principais insumos do aço, o minério de ferro e o carvão metalúrgico, também despencaram. O recuo do índice que leva em conta 1,6 tonelada de minério e 0,6 de carvão, o suficiente para se produzir uma tonelada de aço, foi de 60% até agora no ano, para US$ 149.
No Brasil, a presença chinesa e dos importados em geral encontra-se em patamares elevados para a média histórica. Em 2012, a fatia do estrangeiro era de 13,6% no consumo aparente de aços planos, mostra o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), subindo a 12,8% no ano seguinte e ao pico de 16,8% em 2014. O índice, contudo, encontra-se ainda em 16,2% no acumulado de janeiro a novembro de 2015. Se apenas os produtos chineses forem levados em conta, a presença seria de 10%.
Mas o câmbio deu conta não só de inibir as importações - o próprio Inda informa que o volume recuou 20,4% de janeiro a novembro, para 1,46 milhão de toneladas - como de aliviar a forte queda dos preços. O dólar engatou alta de 45,9% perante o real neste ano, até o início de dezembro, o que reduziu a queda dos preços da bobina a quente chinesa, por exemplo, para 20% em reais. O produto valeria hoje R$ 988.
Os prêmios do aço nacional chegaram a ficar negativos em meados de setembro, o que também ajudou nos reajustes de até 10% praticados pelas usinas no Brasil.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo