As expectativas do mercado de mineração e siderurgia em relação ao reajuste do minério de ferro da Vale, a vigorar no terceiro trimestre deste ano, giram em torno de um reajuste na faixa de 30% para a tonelada FOB do produto, segundo fontes do setor mínero-metalúrgico. A crise europeia, porém, está gerando uma incerteza em relação a capacidade das siderúrgicas de absorverem esses aumentos e o repassarem a seus clientes, o que pode levar o minério a não manter sua trajetória de alta no ultimo trimestre do ano, avaliam os interlocutores do setor. Apesar das dúvidas, a siderúrgica japonesa Nippon Steel acaba de fechar um contrato de reajustes semestrais do aço com a Toyota Motor, segundo o jornal japonês "Nikkei".
Um relatório do banco Credit Suisse divulgado ontem trabalha com alta de 37% para o minério no terceiro trimestre. Os analistas de mineração do banco suíço, Ivan Fadel, Bruno Savaris e Luiz Macedo, calculam um valor de US$ 145 para a tonelada FOB do minério de ferro para o período julho a setembro, o que configura tal aumento sobre o preço de US$ 105 que consideram ter sido fechado pela Vale com seus clientes no segundo trimestre, levando em conta descontos.
A conta do banco foi feita para o minério do tipo standard sinter feed de Tubarão (SSFT), com teor de ferro de 65%, baseada na nova fórmula de precificação trimestral do minério divulgada pela Vale para sua clientela em março. A referência para o preço médio do 'spot' chinês, de março a maio, fundamental para calcular o preço FOB trimestral, foi de US$ 160 a tonelada. O valor foi divulgado pela publicação "Metal Bulletin", com base base em notificação feita pela Vale à chinesa Wuhan.
No cenário desenhado pelo banco, apesar do "spot" chinês ter cedido para US$ 156 a tonelada, a cotação de ontem no mercado, depois de bater máxima de US$ 186, o mercado continua apertado. De acordo com os modelos de oferta e demanda do Credit Suisse o mercado transoceânico de minério está trabalhando em 2010 com 98% de sua capacidade, de 1,03 bilhão de toneladas, ante capacidade total de 1,06 bilhão de toneladas.
A projeção de produção de aço na China em 2010 é de 620 milhões e 728 milhões de toneladas no resto do mundo - total de 1,3 milhão de toneladas. São projeções consideradas "conservadoras", pois entre janeiro e abril o país produziu aço num ritmo de 650 milhões de toneladas/ano.
A grande dúvida do mercado, porém, é se as siderúrgicas vão conseguir implantar um sistema de reajustes trimestrais com seus clientes, como ocorreu com o minério de ferro e o carvão, suas principais matérias-primas. O acerto da Nippon Steel com a Toyota ficou em torno de alta de 20%, a partir de abril. Outras siderúrgicas, como JFE Steel, pretendem propor um mecanismo de reajustes de preços trimestrais para os consumidores de seus produtos, seguindo a trajetória das suas matérias-primas.
A crise economica que sacode a Europa e mesmo os EUA, porém, está gerando dúvidas nos investidores sobre o sucesso desse novo esquema, segundo interlocutores do setor mínero-metalúrgico. Há dúvidas sobre a continuidade da trajetória de alta do minério no último trimestre desse ano, segundo os interlocutores do setor.
Apesar do cenário otimista para o minério, por conta da demanda da China, o risco da economia europeia, acossada pela crise da dívida de alguns países e o aperto monetário na China, tem gerado algum estresse no mercado, o qual vem se refletindo no comportamento das ações das mineradoras. Outro fator que pode mexer com esses papéis é a recente proposta do governo australiano de elevar impostos sobre minerais. O fato poderia ter um efeito dominó sobre os governos de outros países produtores, como o Brasil.
Fonte: Valor Econômico/ Vera Saavedra Durão, do Rio
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