Acostumados às perdas provocadas pelas secas frequentes no verão, os produtores do Rio Grande do Sul preparam-se para colher uma supersafra de milho e soja nesta temporada 2009/10. Com chuva abundante desde novembro, apesar de excessos pontuais, somente uma "catástrofe" climática e enchentes generalizadas nos próximos meses poderiam derrubar a produtividade das lavouras, avaliam especialistas do setor.
"Se chover acima da média em fevereiro o risco é a produção aumentar ainda mais", comenta agrônomo da Emater-RS, Alencar Rugeri. Segundo ele, com a chuva de janeiro a produtividade da soja, que começa a ser colhida em meados de março, tende a ser bem maior do que os 2.128 quilos por hectare previstos no último levantamento feito pela instituição, em dezembro. Com isso, a produção ficaria acima das 8,5 milhões de toneladas estimadas no fim do ano passado.
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No milho a colheita iniciou em janeiro e o quadro é parecido. A última previsão da Emater-RS aponta para uma safra de 5,1 milhões de toneladas, mas o agrônomo Dulphi Pinheiro Neto acredita que o rendimento médio superará com folga os quase 4 mil quilos por hectare projetados em dezembro. "Há muito tempo não se via uma quantidade de chuva tão boa", disse. Até agora o melhor desempenho do segmento no Estado havia sido registrado em 2002/03, com 3.833 kg/ha, lembra.
O lado ruim da história é que os preços estão menores do que no ano passado e devem piorar um pouco antes de começarem a melhorar. No caso da soja, o último levantamento da Emater-RS, de 28 de janeiro, apurou preço médio de R$ 39,29 a saca no Estado, 17% a menos do que no mesmo período de 2009. Pelo milho, os produtores gaúchos estavam recebendo R$ 16,41, com queda de 20% na mesma base de comparação.
Já nesta semana as cooperativas Cotrimaio, de Três de Maio, e Cotrijal, de Não-Me-Toque, estão pagando, respectivamente, R$ 36,30 e R$ 37,00 pela soja e sinalizam para novas quedas. Conforme o vice-presidente da Cotrimaio, Antônio Wünsch, a cotação pode cair a R$ 35 com a entrada da nova safra. Infrid Schmidt, da área comercial da Cotrijal, também vê espaço para uma redução até R$ 34 ou R$ 35, levando em conta os preços praticados na Bolsa de Chicago e a variação cambial.
Segundo Rugeri, da Emater-RS, a supersafra americana de soja, a maior produção brasileira neste ano - 14%, para 65,2 milhões de toneladas, conforme a Conab - e o real valorizado pressionam os preços e não há sinal de alternação no cenário no curto prazo. "Vai depender do mercado internacional", diz Schmidt, da Cotrijal. Para Wünsch, da Cotrimaio, os preços podem se recuperar mais adiante se os fundos de pensão americanos decidirem aproveitar a baixa para ir às compras em Chicago e se a China aumentar as importações.
O milho também deve ser pressionado pela boa safra americana e pela valorização do real, mas a Conab prevê uma pequena redução, de 1%, na produção brasileira neste ano, para 50,5 milhões de toneladas. Além disso, conforme Wünsch, mesmo com a colheita maior, o Rio Grande do Sul terá que buscar produtos em outras regiões do país para abastecer a indústria de aves e suínos no fim do ano. "Todo ano falta milho no Estado", lembra.
Segundo ele, a colheita na região da Cotrimaio já encerrou e a cooperativa fechou as compras pagando R$ 16 a saca. Na Cotrijal, a cotação estava ontem em R$ 14,50, mas Schmidt admite que ela pode recuar até R$ 14 nos próximos 30 dias. "O preço ainda vai cair um pouco, mas não me arrisco a apostar em um piso", afirma Pinheiro Neto, da Emater-RS.(Fonte: Valor Econômico/ Sérgio Bueno, de Porto Alegre)
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