Nem mesmo a forte crise pela qual passa o mercado de aço no Brasil impediu o grupo siderúrgico russo NLMK, com sede na cidade de Lipetsk, sudoeste do país, de abrir um escritório de distribuição em São Paulo. A companhia pretende coordenar as entregas dos produtos do Brasil para toda a América do Sul, conforme a expansão dos negócios se materializar.
As especialidades trazidas ao mercado doméstico foram as chapas grossas de alta resistência e antidesgaste, que são destinadas especialmente aos mercados de máquinas para os setores de mineração e agricultura, por exemplo, e aos de elevação e transporte. Os produtos são chamados de Quard - antidesgaste - e Quend - alta resitência - e são produzidos na fábrica do grupo que se encontra na Bélgica.
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Paulo Seabra, diretor-geral para a América do Sul da NLMK, disse em entrevista ao Valor que o objetivo é ganhar o máximo possível desse mercado de chapas grossas de alta resistência no continente. Já em 2015, o executivo espera que a companhia consiga abocanhar cerca de 10% de um mercado que representa 150 mil toneladas, na média histórica, mas que no ano pode se retrair a até 70 mil toneladas.
"Hoje o líder desse segmento domina cerca de 22% das vendas. O que nós queremos é, com cinco anos de operação chegar a 30% do mercado", revelou Seabra. "O problema é que agora está praticamente tudo parado na construção civil, os guindastes que usam nossas chapas não estão sendo vendidos. Também temos menos movimento em mineração e implementos rodoviários."
Desde que chegou ao Brasil, o grupo russo montou seu armazém de estocagem na cidade portuária de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. De acordo com o executivo, já são mais de € 5 milhões em estoque e navios já atracaram em agosto para entregar volumes encomendados pela região de Antofagasta, grande produtora de cobre do Chile. Desde que os preços do metal não ferroso despencaram, as produtoras chilenas suspenderam as atividades por um longo tempo, mas agora retomam a atividade, lembrou Seabra, a começar pela manutenção das máquinas.
"Vejo isso como um sinal [de retomada da produção de cobre]. Agora teremos trabalho para vender às fornecedoras dessas mineradoras", declarou. "As empresas de mineração puxam a fabricação da linha amarela, de desgaste, de reforma, que está muito devagar, mas não para totalmente."
O grupo NLMK possui um método diferenciado de produção. Todo o aço bruto é fabricado na sede, em Lipetsk, e depois transportado para as controladas na Europa e nos Estados Unidos para serem transformados e, então, destinados a outros mercados. São nove usinas laminadoras localizadas fora da Rússia e as da Bélgica fornecem o Quard e o Quend à América do Sul.
No ano passado, a companhia produziu 15,9 milhões de toneladas de aço bruto, com uso de 96% da capacidade - acima da média global, em um momento no qual as operações de siderurgia no mundo já começavam a sofrer desaceleração (76,7%, em média, de acordo com a Worldsteel Association). Esse volume representa 22,5% do total produzido na Rússia durante o período e, para efeito de comparação, a maior empresa do mundo no setor, a ArcelorMittal, fabricou 93,1 milhões de toneladas.
Mas como a operação é verticalizada, a NLMK ganha na rentabilidade. A companhia também é favorecida pela desvalorização da moeda local, o rublo. Em 2014, a margem da companhia sobre o Ebitda foi a 23%, enquanto ArcelorMittal ostentou 9,1%, a japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal (ano fiscal, findo em março) teve 12% e a Posco, da Coreia do Sul, registrou 22%.
A ideia, explicou Seabra, é estar presente no Chile, no Peru e na Colômbia, além de Brasil. O executivo, que veio do grupo sueco SSAB, demonstra otimismo, principalmente porque a concorrência nesse segmento específico é bastante pulverizada. "No curto prazo, ficamos preocupados com o câmbio aqui, por conta do investimento à vista. Mas no longo prazo, não há nenhum problema", diz o executivo.
Com base nessa perspectiva, apesar de não revelar o faturamento, Seabra espera triplicar as vendas dentro de três anos. "O Brasil tem apenas um fabricante que comercializa chapas de aço com as características similares aos nossos produtos. As crescentes exigências serão cobertas pelas importações", opinou Ilya Guschin, vice-presidente do grupo.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo