O anuncio da saída dos diretores financeiro e de mineração da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) causou forte impacto no mercado, com as ações da siderúrgica baixando 2,6 % num dia em que o Ibovespa subiu 0,69% e os papéis ON e PNA da Usiminas subiram 1,52% e 1,48%, respectivamente.
Em curto relatório onde comenta a saída dos dois diretores-executivos - Paulo Penido Pinto Marques, de finanças e relações com investidores, e Jayme Nicolato, de mineração de ferro -, o Goldman Sachs destacou que a saída deles, principalmente de Nicolato, "pode suscitar preocupações entre os investidores sobre a execução de projetos de mineração ambiciosos que estão em andamento".
Marcelo Aguiar, analista de mineração e siderurgia do banco, referia-se aos projetos da mina Casa de Pedra, operada apenas por CSN, e à controlada Namisa, em parceria com um consórcio asiático de siderúrgicas e uma trading, que tem 40%. Aguiar destacou no relatório: "As nossas previsões mostra o negócio de minério de ferro responsável pela maioria do crescimento do Ebitda (resultado operacional) da empresa nos próximos anos". O banco reiterou recomendação de venda da ação da CSN.
Para fontes do mercado financeiro que não quiseram ser identificadas, a rotação de executivos na CSN continua muito grande. Isso ocorre com executivos com currículos ricos, de primeiro time, como são os casos de Nicolato e Penido. Hoje, está difícil encontrar executivos como estes num mercado que está muito demandado, avaliam as fontes. Nos últimos dez anos, calculam, a CSN teve no mínimo quatro diretores financeiros. "Este tipo de mudança de management é péssimo para execução de projetos e só joga contra a empresa", disse um interlocutor.
Penido Marques, com carreira iniciada no mercado financeiro - passou Morgan Trust, Bank Boston e Citibank - estava desde maio de 2009 na empresa. Antes, havia passado nove anos em função semelhante na concorrente Usiminas. Tinha um papel estratégico na CSN, ao lado de Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da empresa. Cuidava de gestão, planejamento, controladoria e RI. Na CSN, ele esteve presença crucial em importantes negócios: Namisa, aquisição de ações da mineradora de carvão Riversdale (recentemente vendidas com lucro alto por US$ 800 milhões); compra de mais de 10% de ações ON da Usiminas e participação direta na aquisição de quatro ativos de aços longos e uma cimenteira na Espanha por € 950 milhões.
Nicolato, que respondia pelo negócio de mineração e pela Namisa, era diretor-executivo desde 2009. Mas estava na empresa há mais tempo: antes era responsável pela ferrovia Transnordestina.
Interinamente, no lugar de marques foi indicado o diretor-executivo Alberto Monteiro, que há dois anos cuidava da tesouraria da CSN. Para o lugar de Nicolato foi indicado Daniel Santos, diretor de operações de mineração, em especial de Casa de Pedra.
Os atrasos nos projetos de aço longo da CSN e da produção e venda de minério de ferro de Casa de Pedra são atribuídos pelas fontes à constante perda de executivos, a qual consideram muito ao estilo Steinbruch - ele concentra cargos de presidente do conselho, CEO e de diretor de recursos humanos e interfere com muita frequência na função dos diretores. "É um cara brilhante em estratégia, mas sua fraqueza está na execução, pois não deixa os executivos fazerem aquilo para o qual foram contratados", disse uma fonte do setor.
Todos temem que a CSN esteja deixando passar um ciclo maravilhoso de preços. O grande salto de Casa de Pedra vai acontecer por volta de 2015/2016, quando vários novos projetos vão entrar no mercado e o ciclo de preço baixando. A Namisa também pouco andou.
Fonte: Valor Econômico/Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro | De São Paulo
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