Os prejuízos causados à agricultura pela estiagem em Santa Catarina, no último verão, somaram R$ 578,3 milhões até o momento. A estimativa foi divulgada ontem pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa).
Os problemas concentraram-se, principalmente, na região oeste do Estado, embora a seca tenha se alastrado também para algumas cidades do meio-oeste catarinense, como Campos Novos, mais recentemente. Essas regiões concentram a maior parte da produção de grãos de Santa Catarina.
A chegada do outono não traz informações meteorológicas que indiquem uma mudança no quadro. Por enquanto, a previsão continua a ser de pouca chuva, segundo informações da Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural (Epagri/Ciram).
A quebra maior é na safra de milho. Com uma perda de 21,4% em relação à produção estimada, o prejuízo dos produtores chega a R$ 326,4 milhões. Outras quebras expressivas são observadas na produção de leite, que deve ser 17% inferior à esperada - um prejuízo de R$ 26 milhões - e na de soja, com uma colheita 12,8% menor e perda de US$ 121 milhões.
A seca atingiu as lavouras de milho e soja, plantadas entre setembro e outubro de 2011, durante o crítico período de formação dos grãos. No caso da produção de leite, o efeito veio por conta da seca sobre as pastagens.
Para os produtores de aves e suínos, o impacto já é sentido nos custos. O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio de Lorenzi, observa que a maior parte dos criadores independentes - aqueles que não estão integrados às agroindústrias - costuma ter uma produção própria de milho para ser usada na alimentação animal. Com a quebra, o custo da saca de milho, que seria de aproximadamente R$ 16, passou a ser de R$ 30, calcula o dirigente.
O diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarnes-SC) e da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa, diz que, no caso da produção integrada, o aumento será arcado pelas agroindústrias, que fornecem o insumo para os produtores. Segundo ele, essas empresas terão que trazer um percentual maior de milho de outros Estados para suprir a produção catarinense, pagando mais também pelo frete.
Santa Catarina já teve outros períodos de seca, como em 2003, 2004 e 2007, mas a característica particular da estiagem atual é a sua longa duração. Segundo Ilmar Borchardt, gerente do Cepa, o mais comum era uma seca concentrada entre janeiro e fevereiro, que não se estendia até março, como está ocorrendo neste ano. Na avaliação do secretário adjunto de Agricultura do Estado, Airton Spies, o maior problema é o baixo nível dos reservatórios de água em várias cidades do oeste, o que compromete o abastecimento nas propriedades.
A seca é uma decorrência do fenômeno La Niña, que castigou todo o Sul do país. De acordo com a meteorologista da Epagri/Ciram, Marilene de Lima, alguns municípios do oeste catarinense chegaram a registrar, em fevereiro, uma precipitação 90% abaixo da média histórica. O maior município do oeste, Chapecó, teve 57% menos chuvas do que na média histórica para o período, que é de 204,9 milímetros. Marilene destacou um agravante: as poucas precipitações que ocorreram, além de baixas, vieram depois de longos intervalos de tempo.
"A situação é bem grave", disse ela, acrescentando que não há perspectivas muito animadoras, já que nos meses de outono e inverno há, historicamente, um menor volume de chuvas nessas áreas. Para abril, ela acredita que o padrão na região será de baixa precipitação - chuvas de 10 a 15 milímetros - e uma má distribuição desses episódios. Até ontem, 107 municípios catarinenses haviam decretado situação de emergência por conta da estiagem dos últimos três meses.
Fonte:Valor Ecnonômico/Por Vanessa Jurgenfeld | De Florianópolis
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